sexta-feira, novembro 17, 2006

Como ser escritor no país do samba e futebol?

Não basta só escrever. E não basta escrever um bom texto. Nem um ótimo texto. Ou excelente. Você precisa fazer literatura de modo empreendedor. Ser o artista e o mecenas. Pensar numa maneira de ser um pouquinho rentável que seja, porém aceito e visto como artista.

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Aí você pensa em como fazer isso. O texto só não basta, você fica matutando. É preciso ter um apelo pessoal. O artista, às vezes, é mais interessante do que a obra. Aparece mais. Pensei em fazer um troço doido qualquer, mas não dá. Não consigo vestir nenhuma máscara, inventar histórias, só pra chamar a atenção. Então eu escrevo, acreditando que há nisso algo de genuíno, mas parece não haver.
Hoje, por telefone, tagarelava com um amigo e terminei por falar: "Queremos ser escritores no país do samba e do futebol. Nosso presidente é semi-analfabeto e deve achar que Tolstoi é o nome de algum país da antiga Alemanã oriental ou a marca de um wisk raro que ainda não bebeu." Precisa dizer mais alguma coisa?
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Escritores, sejam empreendedores. Recebi isto de uma editora. De uma editora muito bem considerável e sincera. Eis um trechinho:
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“Assim que terminei de ler A Guerra dos Bastardos, fiquei me perguntando como é que você ainda não tinha uma editora. Você é realmente uma jovem autora de muito, muito talento. O livro é sensacional e tem tudo para ter uma grande repercussão”.
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Suspirei.
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Tomei um gole d´água.
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Suspirei novamente.
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Porra, sou muito talentosa e o livro é sensacional, murmurei.
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Ok. Isso é tudo o que queremos ouvir. Exatamente isso, quer dizer, nosso lado artístico. Porém nosso lado mecenas diz: o que eu faço agora?
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Os trâmites do mercado têm dificultado as negociações. Não dá pra saber exatamente onde está o problema.
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São cotas, contas, prós e contras.
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Se alguém tiver uma sugestão empreendedora, sem envolver sexo, assassinato ou roubo, eu aceito ouvir. Mas eu me pergunto: Existe algo empreendedor sem realmente envolver uma dessas coisas?
Ah... a pergunta do título deste post também está valendo. As respostas, isso se alguém responder, pode virar um post. Haha.
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Bem, sendo assim, criei uma casa para comportar meus bastardos. Agora existe um site sobre o livro. Escrevi algumas coisas sobre o texto, porém não tem nenhum capítulo disponível. www.aguerradosbastardos.blogspot.com
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E o Killing Travis ganhou um banner. Quem quiser linkar em seus sites, be my guest.
*That´s all folks*

5 comentários:

Fredson Novais disse...

talvez seja muita inocência ou arrogância, mas eu realmente acredito que vou fazer sucesso e ganhar dinheiro com os meus livros. por outro lado, eu acho palhaçada esse negócio de mecenas ou artista que chama mais atenção que a obra, embora nós tenhamos os dois exemplos nesta nova geração. contudo, não vou dar nome aos bois pois sei que você é uma moça ética e não quero causar polêmica...
quanto a resposta da editora ao seu livro, isso faz a gente acreditar que ainda há alguma justiça nesse mundo. agora só falta você ficar rica, pois uma moça que escreve sobre sangue e vísceras também merece usar sapatos caros. :)
um beijo!

Anônimo disse...

Importante a sua posição quanto ao mercado literário brasileiro. Essa coisa do escritor empreendedor. Atualmente eu estou com uma idéia na cabeça para um romance. Mistura de literatura policial e cinema. Só que ainda não sinto firmeza no modelo ideal para começar a escrever. Parece maluco, não é mesmo? outro dia desses estava pensando no que o leitor brasileiro (peça rara em nosso país, onde quase metade da população é analfabeta) gosta de ler. E não consegui formar um padrão. Daí minha indecisão para começar a criar minha história. Adorei a página da guerra dos Bastardos. Já tinha lido seu folhetim no folhetim pulp. Você tem futuro, ana! Boa sorte. Abraços do crítico da caverna.

ana paula maia disse...

DIOGO, tagarelar é o barato :) Fica muito difícil entender todas essas questões mercadológica. O engraçado é que hoje vc tem muito mais editoras e o dinheiro terminar por impor muitas condições complicadas, pois entra toda a burocracia. Existe um livro da Clarice Lispector, em que nos créditos da editora, está escrito o endereço de uma gráfica que ficava nos Fundos. Quer dizer, ela bancava seus livros imprimindo em gráficas fundo de quintal. É impressionante, não?


FREDSON, arrogância coisa nenhuma. Você DEVE ser o primeiro a pensar assim, se não ninguém pensará. E digo, meu amigo, pensar na obra pela obra ainda vale muito a pena. Isto traz um quê de integridade absurdo.
Hum... não preciso de sapatos caros. Isto é bobagem. Mas entendo o tom da provocação, ah, se entendo. rs.

ROBERTO, acho que o modelo de literatura no Brasil será o padrão "American´s writer" daqui a algum tempo. Não espere ser aceito como bom escritor, pois a crítica cairá de pau, mas venderá. Coisas tipo Capão Pecado é um horror, impossível ser mais mal escrito, porém vende pacas. A desgraceira vendo muito.
Vc precisa decidir que espécie de escritor quer ser, quando digo você, me refiro a qualquer pessoa que decida entrar pra carreira.

abçs,
ana

ana paula maia disse...

É claro que o escritor tem que ser respaldado pela obra. O resto é circo.
Se vc descobriu que não quer ser escritor depois dessas questões, é porque você não foi infectado. Parabéns... você está são! Agora, vá viver com liberdade. rs.

biografia disse...

Bom, acho que as aparências valem menos que o conteúdo, para uma obra literária perdurar... um livro bom é para a vida toda, o sucesso, porém, muitas das vezes acada... mas isso varia de autor para autor, na minha opinião, dependendo de seus conceitos filsóficos ou dinheiróficos... rs