quinta-feira, dezembro 07, 2006

Continuo desviando-me da morte. Esperando escapar mais uma vez.

Dormi muito pouco noite passada. Não dormi em casa. Dormi numa grande cama de casal. A cama já conhecia, mas o colchão era outro. Ortopédico. Lá fora, pela janela um prédio estranho cercado de muitas árvores. Eu ainda queria estar em casa. Madrugada e não dormia. Cochilei algumas vezes. Deixei as persianas escancaradas. Sabia que o sol me acordaria, já que não suporto o calor. Acordei cedo. Agitada. Mal dormida. Pensei no meu apartamento e eu queria voltar. Saí do prédio e deixei meu amigo, dono da cama e do colchão dormindo na sala. Bati a porta, desci de elevador e nem dei bom-dia ao porteiro. Caminhei rápido. Cheia de fome. Queria chegar logo e saber o que havia acontecido.
No dia anterior, início da noite, um carro da polícia e homens de fuzil invadem meu prédio. Bandidos fizeram reféns no sétimo andar. Eu não sabia de nada até meu telefone tocar: “Ana, tá cheio de polícia no seu prédio, o que houve?” Era a Simone, minha amiga, apavorada. Corri pra janela de calcinha e sutiã e disse “É mesmo. A coisa ta pegando aqui”. Mais policiais chegaram. Muitos entraram no prédio. Eu podia ouvir o solado das botas no andar de cima. As vozes ecoavam pelo prédio quase deserto. Um disse “ Tranca a lixeira”. Eu não sabia o que fazer. O que estava acontecendo. Outro amigo ligou e disse que minha rua estava um caos. A imprensa já havia chegado. Pelo interfone o porteiro não sabia de quase nada, até ele mesmo não poder mais atender o interfone. A policial isolou tudo e eu ainda estava lá dentro. Sozinha. Abri a janela e gritei e eles não ouviam. Bem... meu telefone tocou: “Oi. Sou repórter do Globo e soube que bandidos mantém reféns no prédio.” E ele continuou e eu confirmava. Eu tentava explicar o que não sabia até pensar em Al Pacino, Robert DeNiro, e me lembrar de algum filme... ainda não sei qual, em que o próprio bandido liga para alguém fingindo ser outra pessoa para colher informações. Desliguei o telefone e pensei... “Caralho, é o bandido”. Corri o mais depresa....assim mesmo tão rápido, que esqueci de colocar o outro “s” na palavra. Eu precisava sair do prédio. Os homens falavam muito lá em cima. Não entendia bem. Joguei minha mochila nas costas e abri a porta o mais rápido que pude. Tranquei e saí correndo até o saguão do prédio. Homens e fuzis. Aí, eu andei mais devagar. Esbaforida e devagar. Saí do prédio e entrei no primeiro táxi. Fui pra casa do Thiago, meu amigo. Ele mora perto, mas as pernas estavam bambas demais. Eu já estava cansada. E me lembrei do primeiro capítulo do meu livro, “A Guerra dos Bastardos”. Essa passagem da saída do prédio, o táxi... foi idêntica. A ficção ganhando forma, e não forma de livro, mas de vida real. Isso tudo aconteceu mesmo. Anteontem. Ninguém ficou ferido.
E parece piada, mas voltando ao que havia escrito no post debaixo: Continuo desviando-me da morte. Esperando escapar mais uma vez. Impressionante quando as palavras ganham ação e interrompem o cotidiano.
Mas não quero parar aqui. Estou ouvindo BB King. Blues Man. A maioria das pessoas poderiam ter a alma de um blues man. Eu sou um blues man. De alma e coração.
“A carga que eu carrego, oh, é tão pesada
Parece que não há ninguém neste grande mundo
Que iria querer, querer ajudar o velho b.
Hei, mas eu vou, eu iria estar bem, pessoal
Só me dê um tempo, boas coisas vêm
Aquelas esperas, e eu esperei um longo tempo...
Sou um homem-do-blues
Mas sou um bom homem, entenda”.
[Blues Man _ BB King]
*That´s all folks*

2 comentários:

ana paula maia disse...

Oi Diogo! Vou disponibilizar o conto. Achei que já estava aqui, mas aviso no blog. Pode deixar.

bjs

Anônimo disse...

Agh. O que eu escrevo também acontece.
Mas essa foi demais. Estava passando pela sua casa, como sempre passo ao voltar do trabalho, aí vejo aquela sirene aberta embicando no seu prédio. As crianças estavam jogando bola, pararam. O policial saindo com fuzil de fora. As pessoas olharam aquilo e logo abriu uma clareira na calçada. Corri pra casa pra te ligar.