domingo, agosto 16, 2009

Palavra de leitor

Hoje recebi esta resenha sobre o livro publicada no site Portal literal.
Como esse rapaz soube descamar os parágrafos do Entre rinhas tão bem assim...
O link no site AQUI

Sinestesia e materialização: Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos
"Entre a extração de um dente podre e o filete de sangue de porco ressequido num azulejo branco, a literatura de Ana Paula Maia vai tomando forma.
A finalização de sua Trilogia dos Bastardos, com o lançamento pela Record de Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, livro que traz a novela de nome homônimo, anteriormente publicado na web no primeiro folhetim pulp brasileiro, como Ana gosta de frisar, e a outra, O Trabalho Sujo dos Outros, manifesta-se como o estandarte das concepções literárias da autora.
Por seu texto, a Ana não parece religiosa – qualquer julgamento a parte – mas mesmo que de uma forma metafórica, suas passagens, quando chafurdadas no mais grotesco, trazem a carga punitiva do velho testamento – Porém, após trabalho pesado de besta de fardo, a cidade voltará ao normal. As toneladas diárias de sujeira, restos e excrementos já conhecidos por seus braços e lombos serão as mesmas. Isto o conforta –, e mais, ainda pensando biblicamente, sente-se com a leitura, às avessas, uma crença no homem feito de argila, do barro sujo e fedido que realmente somos, e originamos.
Os personagens da autora são seus universos, neles não há o flerte com o bizarro, o canhestro é carga fundamental da existência e faz dela um cotidiano que por distração pode fugir do imaginário cotidiano médio, porém, é da massa humana e putrefata da terra que se faz o texto e seu inusitado. O mundo está ali e é simples ilusão acreditar em espaços de transparências nos centros quando as periferias do homem é que comandam. É um texto de instinto, tanto quanto a existência de cada um dos seres humanos que a autora cria, que existem por aí, recolhendo o lixo que produzimos e matando a leitoa que devoramos após orações numa ceia pascal.
Formalmente, Entre Rinhas de Cachorro e Porcos Abatidos mostra uma escritora comedida e em pleno domínio sobre seu texto. Dentro da forma tímida das duas novelas que o livro traz há um oceano de significação para adentrar. Suas orações são curtas e suficientes para levá-la onde deseja chegar, e possibilitar ao leitor aquilo que quer transmitir de forma árida. Um texto seco como a realidade contemporânea, mas úmido, pingante e fétido ao ponto de inundar, como o lixo que armazenamos.
Religiosamente, leia o livro na privada, de preferência, pois estamos muito longe do cheiro putrefato que o livro pretende exalar e que, por mais que consiga em muitos momentos, não se concretiza formalmente – a falta de poder humano para de forma literal materializar o sinestésico na arte. Ana Paula Maia é uma experiência que deve ser vivida por completo."

*That´s all folks*

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