segunda-feira, março 27, 2006

Paris em chamas

Para amanhecer domingo, tive novos sonhos estranhos. Talvez sob efeitos do tal comprimido, pois já relatei um outro estranho sonho sob seus efeitos. Era um dia chuvoso e nublado e eu estava em Paris. Paris vivia uma revolução e eu encontrei alguns brasileiros à deriva que não se davam contam de todo o perigo que circundava a cidade.


Saí para ir até uma vídeo-locadora, que ficava numa rua estreita, parecia um pequeno reduto alternativo de intelectuais e gente indie. Até então, eu não sabia das manifestações. Na locadora, eu peguei três filmes europeus. Só me lembro de dois deles. Um era do Bertollucci, o outro era do Luis Buñel, porém um detalhe, este filme do Buñel não existe na vida real. E nele estava predito tudo o que acontecia nas ruas de Paris naqueles dias. Levei o dvd para casa, morava numa pensão meio capenga, e tinha uma velha senhora como proprietária.


Enquanto andava pelas ruas, retornando para minha pensão, comecei a ver as cenas do filme de Buñel acontecer à minha frente. Coisa de sonho, antes mesmo de assisti-lo em casa, eu já o assistia em minha mente, saco?
Bem, virei uma esquina e precisei confrontar a polícia em meio a rebelião de jovens. Lembro-me de ter apanhado uma pedra e jogado em direção aos policiais. Era isso ou eu estava frita. E Paris tornou-se em chamas. Só eu sabia sobre o filme. Só eu poderia saber como tudo terminaria. Perambulei até anoitecer, madrugada à dentro com muito frio. Peguei carona com umas brasileiras alienadas. Elas não entendiam que estávamos exilados, e eu continuava agarrada ao tal filme.


Não me lembro direito como tudo terminou, quer dizer, meu sonho foi interrompido, mas eu continuava a culpar o Buñel pelo estado de Paris. Voltei para o Brasil não faço idéia como e sentia-me muito mal. Um mal-estar extremamente penoso. Havia o medo dos confrontos chegarem até mim, me despertarem pela madrugada. Assistia ao filme buscando seu final, buscando entender a história, mas Buñel estranhamente não havia colocado um ponto final no filme, ele não terminava nunca e acordei bruscamente com a imagem do corre-corre, da loucura das ruas e do estado de sítio das coisas.


Engraçado que dois posts atrás falava do sonho de Cortázar e sua casa tomada, e nesse domingo, de alguma forma, também tive a minha casa tomada e minha consciência invadida pelos delírios de Buñel, por seu anjo exterminador, por sua insanidade descontinuada.


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Já está no ar o capítulo10 do folhetim pulp. Confira!



*That´s all folks*


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