sábado, abril 22, 2006

Deslique a tv. Vá ler qualquer troço

Acidentalmente, assisti ao último capítulo da novela Bang-Bang, que acompanhei em rápidas chamadas durante comerciais na rede Globo. Nunca assisti um capítulo da coisa e ao assistir, acidentalmente enfatizo, tive uma convicção ainda maior da porcaria que eu acreditava ser a novela.

Cresci com irmão mais velho, único irmão, heterossexual, machão, praticante de judô e apreciador de armas, (apesar de não ter uma durante juventude). Sendo assim, além de ter crescido com irmão mais velho e macho pra cacete, também cresci com Chuck Norris, Charles Bronson, Bruce Lee e Steve Siegel. Clint Eastwood, nem se fala, é praticamente meu tio. Aprendi a coçar o saco, mesmo não tendo um, a fazer rabiola de pipa, coisa que tinha grande domínio incluindo passar cerol em linha de pipa (um carretel chamado dezão) acho que era isso mesmo. E eu era assistente dele em tudo. Pegar graxa em porta de loja com um pauzinho para passar na corrente da bicicleta, essas coisas de serviçais, e ele ainda diz que eu era a princesinha da casa...... valha-me!

Expliquei tudo isso para que fique bem claro que quando gente desse tipo se depara com cenas exercidas como a última de Bang-bang, é de querer vomitar.
Tem a tradicional cena de velho-oeste, bons enfileirados de um lado, maus enfileirados do outro. Saca a arma, acerta um aqui, outro ali, entrecortados por diálogos medonhos e com o mocinho numa entonação forçada pra burro. Uma dublagem ruim de sessão da tarde cairia melhor.

Após o mocinho tomar um balaço na barriga, faz três expressões consecutivas de dor e coloca-se de pé. Já está bom. Não demora a cena, se passa dentro de uma caverna com o esplendoroso talento de Fernanda Lima, agarrada a um bebê, aliás o bebê conseguiu superar até a atuação da Guilia Gam. Dói ver uma baita atriz como ela, fazer parte daquele circo, mas ela precisa trabalhar. Entendo.

Bem, a solução tomada dentro daquela caverna ou mina de carvão, sei lá, é atirar para o alto para fazer as pedras rolarem, assim, rock´n´roll, e as pedras caem sobre a vilã e o mocinho. Pedras enormes. Percebe-se claramente que são de isopor. Pra quem curte Chapolin Colorado, já deve ter assistido aos episódios no velho-oeste. São excelentes. Tripa-seca, Pistoleiro Veloz, Quase Nada, Racha Cuca. Mas Chapolin no velho-oeste é praticamente John woo na direção perto da novela.

Bem, após tomar um balaço no bucho e ser quase soterrado dentro de uma caverna, o mocinho leva a mocinha pra cama e eles trepam.

Porra, nem Charles Bronson que só fez filme de macho, seduzia mulheres, matava, metia a porrada, teria pica suficiente para foder no final... quer dizer, nem o Steve Siegel, que mantinha o gel nos cabelos presos num rabo de cavalo alinhado foderia alguém com um balaço na barriga, pós-soterrado.

Certa vez, ouvi numa breve entrevista, que a mentalidade do brasileiro não captava a novela em sua genialidade, que estávamos aquém da maravilha das sete horas. Que não estávamos preparados para tanto. É verdade, não estamos preparados para ver tanta merda comprimida em uma hora, entre os escravos massacrados de Sinhá Moça e o RJ TV com o cotidiano massacrado do Rio.
Não serei petulante em dizer para desligar a tv e ler meu livro. Você pode achá-lo uma merda, assim como o meu vizinho acha Jorge Amado um saco e meu livro sua bíblia de bolso. Mas putz, desligue a tv e vá ler qualquer troço que você sai ganhando mais. Sem livro? Leia o Aurélio, ele é ótimo. Olha só a definição para escrupuloso que encontrei na versão online do dicionário. Pura poesia.

"Vede quão arriscado ofício é o de...a pena na mão. Ofício que com mudar um ponto ou...a vírgula, da heregia pode fazer Fé, e da Fé pode fazer heregia. Oh que escrupuloso ofício!" (P.e Antônio Vieira, Sermões, I, col. 519.)


*That´s all folks*






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