sábado, abril 08, 2006

Por toda a eternidade...até gostar

Há um conto do escritor Irvine Welsh chamado Culpa católica [No fundo você adora] que é muito bom. É a história de um sujeito que odeia viados. Ele costuma espancá-los pelas ruas de Londres sempre que tem chance. Então, ele sofre um castigo dos céus por ter sido tão preconceituoso e homófobo. Ele morre de um ataque cardíaco enquanto transa com a irmã de um de seus melhores amigos e a partir dali começa o castigo. Ele começa a enrabar todos os seus melhores amigos. Um por um. E vigiado por um anjo, ele deverá enrabá-los até começar a gostar disso.

Quando li este conto, que já faz um tempinho, fiquei pensando no que seria obrigada a fazer até começar a gostar. Porra, eu me mudaria para a Bahia, faria trancinhas nos cabelos, comeria comida apimentada, sairia no Olodum e seria também obrigada a fundar um bloco chamado “Filhas da Gandaia”, já que no Filhos de Gandhi, mulheres não entram.
Tava ferrada. Passaria uma parte da eternidade trabalhando no serviço público, atendimento ao contribuinte e seria convocada para trabalhar em todas as eleições. E acordaria todas as manhãs com músicas do Zezé di Camargo e Luciano, Quarteto em Si e Jorge Vercilo, sem contar sessões diárias de filmes da pornô-chanchada brasileira. Animaria festas de criança, moraria com ciganos, trabalharia num circo e leria o livro “Poliana Moça” para uma convenção de senhoras quebradoras de coco babaçu do Tocantins.

Putz.... a lista é interminável, só mesmo uma eternidade para me fazer gostar de tudo isso.... pensando bem, nem uma eternidade. Teriam de me enviar a Terra novamente e me matar em seguida... nem uma eternidade, meus caros, duas ou três. Incontáveis existências me faria gostar.

Essa é para o fim de semana, caso não tenha com que ocupar os pensamentos, pense no que é preciso toda uma eternidade pra você gostar. Sei lá, pode ajudar a passar o tempo, caso seja necessário.

Pra comprar meu livro ou saber mais, basta clicar AQUI. Não custa amolar. Ooops, talvez por toda eternidade, vender livros em blogs. Haha.

Fica aqui o trecho do conto do Welsh. Vale a pena conferir. Para ler na íntegra, basta ler o livro de contos “Falando com o Anjo.”



“__ QUANDO? __ berro eu. – QUANDO ESTA PORRA DE PESADELO VAI TERMINAR?

O velho São Pedro do enterro também está no quarto conosco. Está sentado numa poltrona, observando a gente com um jeito distanciado e estudado.

__ Quando você começar a gostar disso, quando você parar de sentir culpa... – diz ele friamente.

Portanto, fiquei lá comendo o rabo do meu melhor amigo. Deus, como eu estava enojado e esmagado pela repugnância, pelo desprezo e pela culpa...
... estava me sentindo doente e feio, numa tortura constante que me compelia a bombear feito uma máquina de foder repulsiva e infernal, como se minha alma estivesse sendo rasgada... indo para um lugar além do medo, da humilhação e da tortura... odiando aquilo, enojado com aquilo, detestando tanto aquela porra... uma dor tão grande e penetrante que eu nunca, jamais, conseguiria sentir algo que não fosse aquele horror...
... pelo menos era isso que eu ficava falando ara aquele puto maluco do anjo”.


(Culpa católica [No fundo você adora] de Irvine Welsh)



*That´s all folks*


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