Silêncio.

Você não escolhe o lugar onde nasce, mas pode escolher o lugar em que vai morrer. Ouço sempre falar de raízes, ancestrais e coisa do tipo. O passado dos antepassados. O meu passado restringe-se ao que me lembro. Há coisas que esqueci e por isto não podem fazer parte de mim, pois o que existe é o que conheço e sei.

Estou lendo o livro A Chave de Casa, de Tatiana Salem Levy. Muito bom este livro. E como o livro é uma reconstrução do passado, me fez lembrar muito o livro Tudo se Ilumina, do Jonathan Safran Foer, por ser um livro de reconstituição da memória, porém muito diferente do primeiro citado.

Fico a pensar sobre os meus antepassados. Existe uma linhagem interessante, mas mesmo assim, eu não sinto vontade de reconstituir. Estranhamente, eu tento somente avançar. Não me sinto parte de lugar nenhum especificamente, apesar de entender a expressão "gosto de infância". Tive uma infância excelente e muito sonhadora. Acho que foi lá que aprendi a desprender-me. Não gosto de juntar muita roupa, calçados ou livros. Não gosto muito de coisas. Gosto mais de pessoas. Pessoas de espécie variada, tipos estranhos, quietos ou exaltados. No mínimo, eu os observo.

Não faço registros fotográficos dos lugares que conheço, porém estou começando a mudar de idéia. Talvez compre uma câmera.... talvez. Eu prefiro registrar em mim as lembranças. Não compro "lembrancinhas" de lugares visitados. Às vezes olho pra trás e percebo que deslizo no mundo sem deixar rastro e este é um dos pontos que identifica os textos que escrevo.

"E todos os dias subo no topo da colina porque quero registrar dentro dos meus pulmões aquele resfriamento para os prováveis próximos dias quentes do sudeste. É mesmo fascinante a nevasca que toma conta rapidamente de tudo, subentendo qualquer vestígio de horizonte. Adiante não há mais horizonte e quando olho para trás minhas pegadas bem demarcadas estão sempre desaparecendo e isso faz o mundo parecer ruir em silêncio".

[A Guerra dos Bastardos _ Ana Paula Maia]

*That´s all folks*