terça-feira, julho 07, 2009

Pelo fim.

Revirando alguns arquivos, encontrei a introdução de um texto que provavelmente nunca vou escrever. Faz tempo que escrevi. Dois anos ou mais. Pretendo nem continuar, mas sabe, eu gosto dessa introdução, que de fato, é o final da história. Acho que não queria contar a história toda, só o final importava para mim. E realmente.... eu nunca escrevi a história que viria antes de tudo aquilo, mas imaginei diversas vezes.

Começar pelo fim te faz imaginar centenas de inícios e fins.

Então deixo aqui um trecho do fim para vocês imaginarem todo o resto como bem entenderem.
;-)

"Monozigóticos, univitelinos, anomalia embrionária, placenta compartilhada, semelhança legítima, simétricos, conjugados. Conjurados, malditos, mesma variante, aberrações. Já ouvi de tudo um pouco. Aqui e ali. E desde pequeno nos vestíamos diferente porque a semelhança era assustadora. Crescemos nos vestindo diferente. Eu gosto de preto e branco, ele gosta de listras. Sempre usa listras. Verticais, horizontais, assimétricas, perpendiculares, cruzadas. Listras nas cuecas. Uma linha divisória. Sempre pareceu vestir grades. Sempre se trancou dentro daquelas listras, coloridas ou cinzas; Emanuel Marvim aprisiona-se não sei do quê.

Não é tão agradável assim quando se ama demais. Quando queremos o lado de dentro do outro. Saber como funciona. Vasculhar seu interior. Sondar seus porões. Quando se ama demais, quer-se suas dobras, fibras e tecidos. Quer-se o avesso, o reverso, envesso. E esse parece o amor que temos um pelo outro, ao menos o meu pelo dele. Talvez seja verdade para ele também, mas eu, Benjamim Victor, desejo-o ao avesso.

Sigo pelo corredor até o fim, até a porta do banheiro, até bater na porta e forçar a maçaneta e descobrir que não está trancada. Esta é a parte do fim mais assustadora. É quando se tem uma porta que está do outro lado, no fim do corredor. Abro a porta e ele me olha através do espelho. Está cansado; Emanuel Marvim cansou-se de mim, de se parecer comigo, de ser confundido todo o tempo. Não posso culpá-lo de nada. E o corte profundo no rosto jorra um sangue espesso e um odor ardente daqueles que te faz vomitar. O sangue escorre pelo antebraço enquanto segura o corte, e pelo cotovelo conclui-se no chão. O sangue dele empoçado também é o meu. O corte foi mais profundo do que imaginava e ele desmaia sobre a poça e esbraveja no chão em espasmos. Seguro sua cabeça, controlo os seus braços e seu rosto se cobre de sangue. O dele que também é meu. Uma cicatriz pode te separar para sempre. E já se sabe que no fim nos separamos. Mas sei que não é verdade, pois nesses amores envessos, quanto mais dilaceramos a carne, mais nos ligamos às fibras ao sangue e ao osso."



*That´s all folks*


Nenhum comentário: