domingo, outubro 25, 2009

Fante e o decálogo sem nome.

"Ele disse: __ Você lê muito. Já tentou escrever um livro? Aquilo funcionou. A partir de então, desejei ser um escritor. __Estou escrevendo um livro neste momento __ falei. __Queria saber que tipo de livro. Eu disse: __Minha prosa não está à venda. Escrevo para a posteridade. Ele disse: __Não sabia disso. O que é que você escreve? Contos? Ou simplesmente ficção? __Os dois. Sou ambidestro."

[ trecho do livro O caminho de Los Angeles - John Fante]

*

Ler o Fante sempre me faz bem. O caminho de Los Angeles ainda não tinha lido. Já li vários outros. É um dos poucos autores que estão na minha pequena prateleira.

Voltei de Campinas onde participei do evento Versões, que aconteceu no SESC e organizado pela Heloisa Pisani. A proposta de um autor apresentar outro autor de sua preferência é acolhedor. Foi imensamente prazeroso ser apresentada pelo meu querido Nazarian que há tempos não via e que há tempos eu conheço. É a primeira vez que estivemos juntos numa apresentação e eu adorei. Ele enalteceu minha heterosexualidade com uma empolgação e disse ter provas sobre minha preferência por homens. Corei. Que porvas são esses? hum...

Outra coisa bacana foram as pessoas que encontrei lá. Um grupo muito bom que participa da roda de leitura promovido semanalmente e uns de seus integrantes não me deixaram dormir cedo. Fui para o combate.

Certa feita disseram aqui no blog que em Campinas só tem viado. Tem não. Tem também, mas tem muito mais.

(ana paula maia no aeroporto de viracopos - foto tirada por toresan)



Mas voltando ao início desta postagem em que eu falava do Fante, bem... essa passagem é bem a cara dele. Sujeito sincero. Sincero como poucos e cheio de impáfia, como muitos.
Esse modo de pensar a literatura, que é para a posteridade tem se perdido visivelmente. Existe uma corrida e um anseio por estar em evidência, em vender livros, em estar nas listas, em aparecer, que borra todo o resto. O resto a que me refiro, a própria literatura.

O decálogo

1 - Existe os pistoleiros solitários, grupo ao qual eu pertenço. Sabe assobiar músicas inteiras. Este sai pouco, não bajula ninguém, geralmente tem poucos amigos ou foge deles e vive de saco cheio. Fura encontros, lançamento dos outros, o seu próprio e é um tanto entediado. Este prefere conhecer seus leitores e circular despreocupado;

2 - Existe os bajuladores desesperados por contatos: Um grupo extenso e praticamente impossível de numerar. São notados à distância. Geralmente são muito simpáticos e falam bem de praticamente todo mundo. Atiram para todos os lados, mas não são pistoleiros. Todos percebem o que são;

3 - Existe os incompreendidos: Querem aparecer, mas dizem que não se importam. Quando há uma brecha, estão lá. Aparecem. Define a sua literatura de mal compreendida e de não terem apelo;

4 - Existe os polêmicos: Geralmente se acham geniais, mas não são. No máximo são bons, mas precisam se esforçar e continuar produzindo. Os polêmicos reclamam bastante, sempre que há chance e todo mundo disfarçadamente sai de perto deles;

5 - Existe os que querem ser polêmicos e tentam a todo custo atingindo demais escritores, mas são rasos. O máximo que consegue é atingir a categoria número 2. Geralmente quem pertence a categoria número 5 também pertence a categoria nº2;

6 - Existe o que é ruim, porém tem amigos. Muitos amigos. E isso faz com que consiga publicar um livro ou outro, usando os demais como muleta. É um tipo escorregadio. Não fala mal de ninguém e joga em todos os lados;

7 - Existe os que cobiçam a posição social do escritor mais badalado e negando este seu estado, fala mal do colega sem mesmo conhecê-lo. Este geralmente na primeira oportunidade, convida o alvo de sua inveja e dor de cotovelo para um chope e baba seu ovo;

8- Existe um tipo bem interessante: Sou escritor para uma escalada social. Esses que querem subir de posição social e descobriram que escrever livros e badalar pode ajudar bastante a alcaçar seus objetivos. Geralmente sonham com a fama e muito dinheiro. Buscam pessoas famosas para lerem seus livros. Podem ser comentados e aí zummmmm;

9- Existe o tipo não faço a menor ideia do que estou fazendo. Este geralmente toma muitos porres e reclama de seus editores.

10- E claro o grande escritor que nunca ninguém ouviu falar. Esse cara genial, semelhante a um Hemingway que nunca teve oportunidade de ser lido. Esse cara de que todos falam, e que continuarão falando. Esse pobre coitado incompreendido pelo mundo. O grande escritor desconhecido, assim como o soldado, esse certamente nunca deixará de existir.

Ainda bem que tenho poucos amigos. E os poucos que tenho são leais como escudeiros. hehe.


*That´s all folks*

7 comentários:

Simone disse...

:-)

Fabricio. disse...

"Paus e pedras quebram tudo pela frente, mas palavras não machucam a gente". CP

Thiago Alves disse...

Obrigado por falar de nosso querido grupo!!!

fmaatz disse...

gostei do decálogo. o fino.
e do fante sou fã.
e sempre venho aqui
e hoje quis comentar.
bjs.

vidal disse...

Ainda lembro do dia que tinha um Fante roubado na cabeceira.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Artur Lins disse...

Adoro o Fante, adorei o decálogo. É isso aí, precisamos de mais números 1 e 10.
Adoro westerns... não sei se você. Por falar nisso, já leu "Areia nos Dentes"?