sexta-feira, janeiro 29, 2010

Janeiros.

Antes de ler Salinger, mais especificamente "O apanhador no campo de centeio", eu tinha restrições quanto ao que colocar no papel. Me policiava, como se nem tudo pudesse ser dito. Escrevia de maneira rebuscada, com tom professoral. Foi lendo Salinger que me libertei de certas amarras e consegui escrever meu primeiro romance, "O habitante das falhas subterrâneas", que faz um paralelo com a principal obra do autor. Foi ele, uma das minhas principais influências para encontrar um caminho na minha própria literatura.

Ele morre no mesmo momento em que decido ressuscitar o livro "O habitante das falhas subterrâneas", e trazê-lo ao sol em formato de folhetim. No mesmo mês. No mesmo janeiro. E foi num mês de janeiro de alguns anos atrás que iniciei meus primeiros passos na escrita, os passos que me trouxeram aqui e seguindo em frente me levarão a outras partes.

Assim... quando o subterrâneo do meu livro vem à tona, é ele, Salinger que desce ao subterrâneo e para ele o sol não brilhará mais. Mas para sua imagem e importância, o sol continuará brilhando.
Tenho visto manifestações de lamentação sobre a morte do autor. Que o mundo perdeu um grande escritor.
O mundo nunca perderá Salinger. Nunca perderá Holden Caufield. O mundo somente ganhou e continuará ganhando com as novas gerações que terão a maravilhosa experiência de conhecer o autor.
Nunca lamento a morte de um grande artista. Principalmente, quando este morre velho. Afinal, todos morrerão. Nunca lamento por isso, e acho que os outros também não deveriam se lamentar.
Lamentaria se ele, Salinger, nunca tivesse manifestado sua escrita. Lamentaria se ele nunca tivesse existido como escritor. Pois o melhor do homem, isso, todos nós temos.

R.I.P


*That´s all folks*

Um comentário:

Farley Rocha disse...

“...Lamentaria se ele nunca tivesse manifestado sua escrita. Lamentaria se ele nunca tivesse existido como escritor. Pois o melhor do homem, isso, todos nós temos.”

Depois que vai, o que fica do homem é o seu melhor. O que entre a gente é imortal. Não tem importância saber quem foi. Mas o que fez. E “O apanhador...” é prova disso.

p.s. Esperei por esse texto, Ana Paula.
Não apenas pelo Salinger, mas por saber que só quem poderia falar sobre o escritor com estas palavras é você.
Obrigado e parabéns!