Mariposa na lâmpada
Ivo viu a uva; Rubem Braga viu a viúva; e eu vi a mariposa de verão ao redor da lâmpada da cozinha. Encostei-me num pequeno armário e fiquei a contemplar a mariposa. Eu esperava pelas duas fatias de pão integral que torravam no grill. Esperaria ali parada até que fosse possível sentir o cheiro de pão quente e novo. O calor tem o poder de renovar as coisas… O fogo principalmente. Tudo depois de aquecido tem outro sabor, outra temperatura, outra textura. Havia ali uma estranha sensação por causa das pequenas sombras causadas pelas asas tão pequenininhas da mariposa. Contra a lâmpada, ela produzia uma sombra larga e fazia parecer que sobre a minha cabeça havia algo ameaçador.
Era o prenúncio do calor que chegaria e realmente chegou na manhã seguinte. Eu sabia disso. Conheço bem essas mariposas de verão que correm em direção à luz, famintas pelo calor, pela eletricidade e pela possibilidade de brilharem. Às vezes, eu penso que elas confundem as lâmpadas com o sol. Não sei. Mas sei que elas batem as asas até morrerem, até que não reste absolutamente mais nenhum vigor naquele minúsculo corpinho seco feito casca de cebola. E, então, elas caem no chão e depois eu piso sobre elas, nem me lembrando mais que antes estavam acima da minha cabeça.
Lembro de um hábito comum lá em casa, o de colocar uma bacia de água no chão, debaixo da lâmpada. A água sabe-se lá por que atraía as mariposas e elas se afogavam. Talvez fosse o reflexo da luz na água que as fizesse pensar que não para cima, mas para baixo, estava a luz ou o sol. E elas se afogavam. Dezenas delas boiando. Um suspiro.
Costumo ter cuidado com esses reflexos, essas projeções, para de maneira nenhuma me afogar… porque seguia em direção à luz, ao sol.
*That´s all folks*
2 comentários:
foi uma boa despedida...
se é que as despedidas são boas, né.
Encontrei teu blog hoje, gostei muito do teu estilo de vida e das coisas que tu escreve,pretendo passar aqui outras vezes, um beijão pra vc.
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