segunda-feira, agosto 16, 2010
Entre os vãos da imaginação.
Literatura e medo é o título de um artigo do jornal Rascunho, deste mês de agosto que fala de Cortázar. A questão fundamental é que a literatura é gerada pelo medo. Numa passagem em aspas, uma resposta de Cortázar:
“O vórtice do pavor sempre foi a manifestação do sobrenatural, daquilo que não se pode tocar nem ouvir nem ver com os sentidos habituais”.
Pois bem, sempre digo que escrevo sobre aquilo que me causa repulsa ou medo ou horror. Então, posso afirmar que o que move a minha escrita é esse sombrio e pouco compreensível sentimento chamado medo, ou melhor, o pavor. Pavor seria mais preciso no meu caso. É naquele território inominável que acredito que as ideias se instalam para a criação de uma nova história. Aliás, todo escritor persegue alguma coisa, sente-se assolado pela própria imaginação e por seus fantasmas. A maioria é evidente, passível de ser discernido em poucos parágrafos. Outros, submetem o leitor a exaustão. Às vezes os seus terrores estão bem à mostra, mas não são sensíveis aos sentidos habituais.
Enquanto escrevo ficção, me incomoda em certos momentos ter assim tanto domínio sobre um universo que existe. Existe no mais profundo dos temores da mente, um mundinho espremido entre lacunas da imaginação... mas que está lá. Sempre está... por trás da penumbra.
*That´s all folks*
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2 comentários:
Senti uma certa união entre Cortázar e Clarice aí, Ana.
O lance de ser movida pelo espanto, mas que o universo criado a partir dele é dominado...
Não que sejam os dois juntos, mas algo novo nascido deles, mesmo que involuntariamente. É isso?
Abraço!
Camila
Acho que o escritor é alguém que consegue sair da clausura diária, de um certo fechamento, de uma tendência do pensamento de se converter em monólogos redundantes.
Ali do lado houve um crime, os jornais estampam a mesma notícia, repete-se milhares de coisas iguais sobre o mesmo acontecimento, as pessoas não querem se assustar, precisam de muletas, repetem opniões conformistas. É preciso agir como se o crime fosse um acontecimento comum, é preciso ter opniões já formadas, enquadrar tudo num mesmo espaço, reduzir o mundo ao já sabido, salvá-lo da banalidade.
O escritor, ao que me parece, segue caminho inverso. Ele busca o crime, a grande incompreensão do crime, a estúpidez do ato, os embotamentos, as lógicas inauditas, qualquer coisa que ainda não se tenha dito. É preciso se espantar com o crime, e trazê-lo consigo, e entregá-lo novamente aos outros.
Falo de um crime, da violência urbana, mas poderia estar falando de qualque outra coisa, os mecanismos da ficção experimental são os mesmos.
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