sábado, maio 06, 2006

Desconcertos nº 4

Pois bem, na noite de sexta pra sábado sonhei que via o espírito de um homem que às vezes era um garoto, e apenas eu o via. Um sonho turbulento, maldito e sem explicação. Espreitavam-me o tempo todo e acho que alguém queria me devorar. Acordei sentindo um certo mal estar. Haviam muitas pessoas espalhadas no sonho, nenhum rosto conhecido. Isso talvez me confortasse um pouco. O calor não era humano, os olhares eram ferozes; havia pressa, turbulência, e eu era perseguida por outros espíritos sem ver o rosto ou forma. Às vezes estava com alguém achando ser humano, mas era um espírito e vice-versa. Um sonho maldito e peculiar. Não sei o que me aguarda de sábado pra domingo, quais sonhos terei e se me lembrarei de alguma parte consistente. Mas como saber o que é consistente no inconsciente? Deixo meus sonhos pra noite, pra hora do silêncio. Hora dos pensamentos confabularem nos recantos da mente.

Virando a esquina da conversa, os coreanos criaram um robô que fala 400 palavras e tem reações de surpresa e alegria. É assustador, pois o robô é uma moça com cara de boazinha. Sinceramente, ela poderia ser minha amiga, melhor até. E fico remoendo: com tanta gente no mundo, por que criar um autômata que possui reações, praticamente outro humano? Qual o propósito? E isso me fez lembrar um documentário sobre pessoas que colecionam bonecas do tamanho de um ser humano, de feições impecáveis, perfeitas. Uma lady de verdade. E as pessoas dormem abraçadas com as bonecas, almoçam juntas, assistem televisão juntas. Isso é a mais terrível carência. Talvez as bonecas tenham também um pretexto sexual, mas acho que no caso dessas, o pretexto é social. Acho que quanto mais caminha a humanidade, mais distante a humanidade fica da humanidade. E ainda não sei exatamente como se dá esse caminhar, mas já percebi que é em passadas velozes, amedrontada, hipocondríaca; buscando o que sempre se buscou: amor, segurança e felicidade. Centrifugam a realidade e depois querem voltar para o meio, para o centro de tudo, eu hein.

E além das bonecas coreanas que não demoram estarão publicando romances sobre robôs urbanos, que bebem, se drogam e fazem sexo escatológico, enfatizando a porcaria de ser um andróide entre humanos e que serão os novos periféricos e marginalizados da sociedade, além dos espíritos mutantes que querem me agarrar em sonhos inconsistentes, bem além de tudo isso, preciso me acostumar com a idéia de que em breve posso ficar sem Lost. E ficar sem Lost me deixará lost. Assim, preciso me envolver com o mercado negro para conseguir os episódios da segunda temporada. Por favor, alguém aí sabe onde posso arranjá-los de modo seguro? É claro, assim como todo mundo, também busco segurança, amor e felicidade.


*That´s all folks*

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