Estou rabiscando algumas coisas faz um tempinho. Desde que acabei "A Guerra dos Bastardos", vi como gosto deles, desses bastardinhos, e como gosto de me imiscuir nessas promiscuidadezinhas que me reviram a cabeça. Deixo aqui um tiquinho de um novo texto que será sabe-se lá o quê, mas ele há meses está me infestando.
"É bastante complicado admirar céus azuis e seus dourados reflexos de sol, enquanto mexo o panelão fervente de gordura, aqui na fábrica de sabão. O cheiro não é de dias ensolarados, sorrisos brilhantes, garotas enamoradas. É cheiro de excremento, sebo, sobra. Mas os excessos, aquilo que mata o coração de uns, gordura degenerativa, colesterol ruim, tem sido parte do meu sustento faz algum tempo.
Mexo o panelão e às vezes permaneço com os olhos vidrados no redemoinho de glicerina e ácido graxo, tecido adiposo, banha, toucinho. Penso em bundas gordas, barrigas flácidas, hambúrgueres e batatas-fritas. Talvez eu saia pra comer um desses e depois, sabe lá Deus, meter a cara num rabo gorduroso pelo resto da noite, pago com o dinheiro que ganho pra chafurdar no sebo durante parte do meu dia.
Sempre estou besuntado de gordura e isso não sai. É preciso muitos banhos, óleos, e removedores. A gordura entranha nos cabelos e se gasta um frasco de xampu dos grandes por semana. Mas recuso deixá-los mais curtos, gosto deles compridos. Gosto de prendê-los com elástico. E gosto de ver os fios excessivos no ralo do banheiro. Bom, talvez seja o vapor do sebo matando meus cabelos desde a raiz. Não importa, amanhã mesmo posso procurar outro emprego, um que não danifique meus cabelos e que não me deixe revestido por uma camada orgânica animal, de sobras e excrementos".
Ps: Fui advertida sobre a barata na capa do livro "Microafetos". É um besouro, disse o autor. Digamos que era uma barata macho que entrou aqui, com cara de besouro. Mas acho que ele me perdoou.
*That´s all folks*
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