domingo, junho 18, 2006

Gays, assassinos e o aconchego do meu lar

Ando escrevendo pouco no blog, mas isso vai acabar logo. Finalmente virão instalar banda larga aqui em casa e não precisarei escrever, salvar no disquete e atualizar na lan house. Poderei ler meus email com calma, jornais, revistas e ir me tornando uma pessoa melhor. Haha.
Assisti neste feriado ao filme "O corte" do Costa-Gravas. Eu não sabia nada sobre o filme, até porque nunca leio críticas sobre filmes, e muito pouco sobre literatura. Em geral eu assisto e leio as obras diretamente. Chego às minhas próprias conclusões.
Bem, o filme, eu achei bárbaro. Do jeitinho que gosto. Amei o protagonista. Amei a direção. Mais um filminho violento feito aquele outro que assisti faz umas duas ou três semanas. "Caché". Também adorei. Mas aí é Haneke e com ele a discussão é mais embaixo, o buraco e o resto.
O Corte conta a história de um homem que foi demitido de seu ótimo emprego, depois de quinze anos de honrada serventia a empresa que trabalhava. As vagas em outras empresas são poucas. O país vive em uma espécie de recessão e esse homem decide eliminar a concorrência, matando cinco homens dos quais ele considera melhor do que ele para conseguir uma vaga numa mega empresa do ramo de papéis.
Ele precisa manter seu padrão de vida. O padrão de vida de sua família. Seus gastos e gostos caros. Sendo assim, ele mata. Mata sem remorso. Ele precisa ser contratado, é a sua única chance de manter o tipo de vida que leva.
Durante todo o filme, caminhões cruzam a tela com frases do tipo "faça viver seus sonhos". Há também muita propaganda espalhada e sonhos de consumo distribuído por todo o filme. É humor negro. Inteligente. Engraçado na medida. Mas o tema não é novo. A classe média enlouquecer para manter seu alto padrão de vida, não é mesmo novidade. Mas vale muito a pena conferir.
Enquanto assistia ao filme, juro que fiquei pensando em certos valores pessoais. Assistindo pessoas transitando dentro de shoppings também penso parecido. Gente endividada por consumo desnecessário também. Tenho hábitos simples. Não consigo me empanturrar de comida, não consigo ter muitos namorados, não bebo, não fumo. Tudo que excede me faz mal. Meu fígado é ligeiramente sensível. Consigo me alegrar com uma simples caminhada. Me alegro quando escrevo algo que gosto. Quando acerto no molho do macarrão. Quando sinto sono e durmo. Quando acordo e tomo meu achocolatado. Isso me faz feliz. Assim, coisas bobinhas...
Na véspera do feriado, fui parar no Galeria Café, uma boate gay em Ipanema. Era aniversário de um amigo querido e lá fui eu naquele antro. Eu disse isso a ele e ele respondeu que deveria estar vazia, que todas as bibas deveriam estar se arrancando pra Sampa, para a Parada Gay. Ufa!, pensei inutilmente.
Lotado. Todas as bibas sambando juntinhas. Eu naquele mar de homens sendo encoxada. Essa foi a parte que ainda não entendi. Eu fui encoxada por homens lá dentro. Haha. E gostei. Porém, derramaram vodka em mim, me espremeram, me passaram a mão. Só não puxaram meu cabelo. Dancei "Like a virgin" com um amiguinho do meu amigo. Dancei Footloose, Clara Nunes, samba de raiz e Cindy Lauper. Saí de lá depois das quatro e meia da manhã e o bicho tava pegando ainda. Cheguei em casa fedendo a suor, vodka, cigarro e testosterona. Tomei banho frio às cinco da manhã e acordei ao meio-dia. Acordei pra começar a ler "O terceiro tira" e descobrir que nada melhor que ler no seu cantinho. Fica aqui um trecho dele.

"Não tentarei narrar o espaço de tempo que se seguiu. Na terrível situação em que me encontrava, meu intelecto não podia me prestar nenhuma ajuda. Eu sabia que o velho Mathers fora abatido com uma bomba de bicicleta de ferro, retalhado até a morte com uma pesada pá e depois seguramente enterrado num campo. Também sabia que o mesmo homem agora estava sentado no mesmo quarto comigo, observando-me em silêncio. Seu corpo estava enfaixado, mas seus olhos estavam vivos, assim como sua mão direita e assim como tudo nele. Talvez o assassinato à beira a estrada fosse um sonho ruim."


*That´s all folks"

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