sábado, julho 01, 2006

Curvas, depressões, freadas... minhas pernas arqueadas sobre um assento de privada

Voltei pra casa. Voltei antes do programado, pois o frio estava me rachando. E foi uma coisa interminável voltar, apesar de ter sido de carro. A ida, de ônibus, foi mais rápida, talvez porque tenha dormido quase toda a viagem. A viagem só levou duas horas e quarenta minutos. Pra ir. Fiz xixi uma vez só. E foi justamente na hora em que o ônibus fazia curvas tão intermináveis quanto minha volta. A situação é sempre ridícula. Mijar em movimento. Em plena descida da serra. Mijar em curvas, freadas e desvios. E ainda ter de mirar o buraquinho, pois eu não sento no assento, que apesar de terem essa função, prefiro me equilibrar com as pernas arqueadas.

Aqui tem tocado coisas retrô. Ando numa fase retrô-liberal-experimental. Pode não fazer sentido, mas pra mim faz. As músicas que tocam aqui, as coisas pregadas na minha parede, as idéias que passam na minha cabeça. É puramente retrô-liberal-experimental. O problema de entrarem na minha casa, é que qualquer um pode sentir isso. Moro em uma instalação que criei. Tudo aqui faz sentido. Gosto de certa simetria e espaço. Cores fortes entrecortadas por preto. Gosto do preto, pois parecem pausas ou parágrafos em branco. Breves interrupções no meu olhar. Provocam certo vazio ótico. E aproveito esses vazios em instantes para ter uma inspiração.

Dia desses, me perguntaram como faço pra me inspirar, pra criar, como as coisas vêm. Eu digo que as coisas já estão. Basta olhar para as pausas, os espaços em preto que estão ao redor. É sim muito subjetivo. Escrevo consciente todo o tempo. Nunca me embriago. Deixei de beber faz tempo. Beber me deixa devagar e com o fígado doente.

Respondendo um longo email sobre meu livro, escritos e coisa e tal, deixo aqui um trecho das minhas longas respostas.


“Pra mim, existe um sistema de Leis que funcionam só mesmo dentro da literatura. Não insisto em trazer o texto para a minha realidade. O que faço é regurgitar minhas idéias, meu cotidiano e minhas impressões. Insisto em dizer que sou parte do texto que escrevo e parte dos personagens que crio, mesmo quando me abordam sobre a questão de eu escrever na primeira pessoa masculina e de que meus textos não possuem cunho feminino.
...

Quanto ao Folhetim Pulp, ele possui também essa perspectiva. É humor negro no sentido mais preto possível. A violência que se aplica a esse texto é entendida como ficção e isso é o mais legal. Escrevi essa história com o intuito de apanhar o que há de mais humano/desumano – sensível/insensível que pode caber em um ser humano e transformá-lo em literatura. A saga dos abatedores de porcos possui uma violência descabível, por isso é possível ser tratada em todas as suas instâncias como ficção. Ali é possível rir de uma extração de rim ou de um açoite miserável. Criei um universo onde posso dizer o que quiser, conduzir a história por caminhos escabrosos, tortuosos ou amorosos, pois ela não faz um julgamento moral aqui do lado de fora, entende? É a ficção que funciona dentro do seu próprio universo e como tal deve ser entendida. Mas é claro que por trás de todo o mundo de fantasia que um escritor cria, existe um respaldo de valores e questionamentos com o “mundo real” em questão, mas isso ele não precisa admitir (rs.)”.

[Ana Paula Maia]

Relendo minhas respostas, é praticamente como deslizar em curvas, depressões e se segurar nas freadas desavisadas... e claro, com pernas arqueadas sobre um assento de privada. Me assusta o que os vãos negros da minha instalação pode me causar.

Vou voltar com os comentários aqui no blog, e eles permanecerão enquanto não causarem danos no sistema.


*That´s all folks*

Um comentário:

ana paula maia disse...

será um grande prazer! Espero que o evento não desista de mim :)
Mais próximo darei serviço completo.