"Deveria ser quase uma e meia não demoraria muito teria que estar me arrumando e tudo. Nunca me senti tão só em toda a minha vida. Fiquei olhando lá pra baixo e me vi estirado em cima de um baita carrão importado que estava estacionado bem na calçada do prédio. Se eu me atirasse cairia em cima dele sem dúvida. Eu tinha um corte na cabeça que vazava sem cessar minha nuca esmigalhada meu pescoço retorcido meu joelho havia desaparecido cacos de vidro furavam minha espinha cutucando uma vértebra exposta e um filete de sangue doce escorria da minha boca a chuva lavava meu sangue da calçada e se o dono do carro tivesse sorte só amassaria talvez nem amassasse tanto assim o capô e quebraria o só pára-brisa talvez só trincasse o vidro sou leve. Algumas poucas pessoas passavam pela rua inclusive um homem de mãos dada com um garotinho que usava uma capa de chuva azul com o emblema do colégio. Eu já tinha estudado naquele colégio também quando era da idade dele gostei de ver aquilo de lembrar de como eu era um garoto despreocupado sem ansiedades sem neuras. Saí da varanda imaginando a grande sorte que tinha o dono daquele carro. Por pouco ele não teve um baita prejuízo e como teria sido infeliz pr’aquele garotinho me ver estirado lá embaixo todo ensangüentado. Isso o traumatizaria pro resta da sua vida. Tinha acabado de poupar duas pessoas, ainda bem".
[O habitante das falhas subterrâneas _ ana paula maia]
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Nunca dou as caras. Por isso decidi colocar esta foto aqui.
(foto feita por Andrea Del Fuego - Centro Cultural da Juventude/julho de 2006)
*That´s all folks*
Um comentário:
bom texto, gostei...
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