sexta-feira, agosto 25, 2006

Aparando merda sem heróis no céu

A caminho do cinema, esbarro com dois sujeitos. E cada um esperava o cachorro cagar. O bichano arreava o traseiro e eles aparavam a merda. “Que merda”, eu pensei. Adoro cachorros, mas não tanto assim. Levar o cachorrinho pra passear, nada mais é do que aparar merda com a mão. O sujeito chega em casa, cansado do trabalho, come alguma coisa, toma um banho e sai pra passear com o cachorro. Ou seja, para aparar merda ao contornar uma praça ou cruzar um quarteirão. Mas isso só foi a caminho do cinema. Na volta, todos os cães já haviam cagado o suficiente.

E fui assistir ao filme “O que você faria?”, e no dia anterior havia ido assistir ao “Obrigado por Fumar”. O que dizer? Bem, o segundo filme eu gostei. Já havia assistido ao documentário que deu origem ao filme, que foi baseado num fato ocorrido no congresso norte-americano, quando os homens da indústria do cigarro, foram levados diante de um congresso para responder algumas questões, como por exemplo, se o cigarro causa ou não câncer. E eles disseram que não. Que o cigarro não vicia entre outras coisas. O documentário é bem melhor... muito melhor e real. O filme vale a pena. O homem-propaganda do cigarro Malboro realmente divulgou suas imagens em estado terminal de câncer e essas coisas. Mas no filme tem muita brincadeira.

Agora, “O que você faria?”, me lembrou bastante um filme que ainda está em cartaz em alguns cinemas, “O Corte”. Por quê? Bem, os dois filmes mostram executivos se matando por uma vaga no mercado de trabalho. Não é um duelo por amor ou mesmo poder, é um duelo de sobrevivência. Como sobreviver no mundo competitivo e a coisa vai se estreitando e parece uma doença. As tensões por ser o melhor, as tensões por trabalhar em algo inferior a sua capacidade, porém, muito disputado.

Quanto mais se avança, mais primitivo se tornam os instintos. E quanto mais primitivos os instintos, mais cruel toda a porcaria do mundo. Mais se agarra leões com as unhas e apara-se merda com as mãos. Porém, continuamos com nossos cachorrinhos de lacinhos e roupinhas. É isso, entende? Para mantermos um bonito cachorrinho aparamos merda ao menos duas vezes por dia. E isso pode não ser apenas uma metáfora. Certamente não é. As coisas vão se estreitando, os instintos se aguçando, os ponteiros dos relógios acelerando e talvez o único instante de paz e tranqüilidade, seja mesmo o de aparar a merda de nossos cachorros, mas se o instinto estiver aguçado demais, vamos invejar a merda do cachorro do nosso companheiro de passeio, afinal seu cachorro é bem maior e por conseqüência, o volume de sua merda também.

E esse estado de coisas nos aprisionam de tal forma que até mesmo nossos cachorrinhos nos domesticam. Parecem não haver nada de bom realmente para se apegar, mas isso é mentira. A minha mentira. Sempre há algo de bom, ainda que não haja heróis em nosso céu, podemos pintar um céu no teto do quarto e olhar para ele antes de dormimos.

O Sr. Miller em seu “Trópico de Câncer” escreveu:

“Para cantar é preciso primeiro abrir a boca. É preciso ter um par de pulmões e um pouco de conhecimento de música. Não é necessário ter harmônica ou violão. O essencial é querer cantar. Isto é, portanto, uma canção. Eu estou cantando”.

Sempre entendo esta passagem como: Isto é ter liberdade.

O meu céu terá um tom de crepúsculo, mesmo às duas da tarde ou às duas da manhã. Afinal, o céu é meu e a tinta azul acabou.


*That´s all folks*


2 comentários:

Simone disse...

Bem, invejo os seus vizinhos. Os meus parecem NÃO se importar em aparar a merda de seus cachorros. Ontem mesmo pisei numa.

ana paula maia disse...

haha.