quinta-feira, outubro 19, 2006

Diabos.

Eu já desconfiava fazia tempos, mas depois de ler o livro, A Solidão do Diabo, de Paulo Bentancur, não desconfio mais. O diabo é um pobre-diabo. E o autor, um diabo de escritor. O livro é dividido em duas partes que compõem 59 contos. Febre e Frio são seus extremos. O que me lembra meus extremos pessoais. O diabo é uma ótima metáfora, se encaixa em tudo, menos com ele mesmo.


Talvez seja por isso que se sinta tão só. Na capa do livro, um homem de braços cruzados diante de uma xícara de café. Eu gosto da capa. Dessa embalagem. Agora, quando vejo um homem no café de uma livraria diante de uma xícara, imagino se não é o próprio diabo. Só não sei o que ele realmente deseja. Digo o diabo e não o autor do livro. O que desejou, não sei mesmo, porém o livro é desejável. Ele faz um traçado de melancolia e violência. Me dá a impressão de uma boca miserável que ri, uma boca murcha e sem dentes. Expresso uma rápida opinião, pois não quero falar demais e passar da medida. Mesmo sem saber quem mede as medidas e o valor de delas.
Costumo olhar as coisas de forma imaculada, se é que é possível. Pode ser ingênuo ou uma perda de tempo para alguns, mas é assim que me relaciono com tudo. Diante de um livro ou de um filme, eu não fico tentando pautar aquilo com o que já li ou assisti, mas com o que já vivi. Não me interessa, eu quero que o outro me surpreenda.
“Mas olha só que espécie de memória! Memória encerrada em si mesma. Memória afogada na lembrança de um silêncio em plena ágora ou do grito de um emparedado. Memória que nunca chega aos demais, que não será compartilhada, memória de um rasgo de consciência, quase um relâmpago antes do gemido final”. [trecho do livro “A solidão do diabo”]
Isso é coisa dos russos.... que pareciam tão sós quanto o diabo.
Ontem assisti ao filme “O Grito 2”. Gostei mais do primeiro, mas não deixaria de assistir ao segundo. Admito que tenho medo do terceiro. Não por sustos espetaculares, mas pela chatice que poderá ser. Imagino que na continuação, todos serão almas penadas ou zumbis. Prefiro os zumbis. E isso, já sabemos, é “Madrugada dos Mortos”. Então, caso haja uma terceira saga, não assista. O dois é o bastante. Porém, “Silk”, outro terror oriental parece ser demais. Mas ainda é preciso esperar ou baixar na Internet, você é quem sabe.
O problema maior é a porcaria de platéia farofa que freqüenta esses mulitplex que vendem uma porra de pipoca aromatizada, tamanho pequeno por cinco reais. Sai pra lá. Ao menos os intelectualizados são menos barulhentos, porém fedem. Entre fedor e falatórios eu prefiro ir a vídeo-locadora. Mas aí eu não tenho aquele convívio social e fico cada vez mais com a cabeça enfiada entre as pernas.... em sentido figurado, por favor. Não pratico perversões. Nem sozinha. Sou careta pra cacete, sempre digo isso.
Sempre que vou a esses multiplex (só mesmo quando não há outra opção), e adianto que moro cercada por cinemas variados, eu contabilizo. Vejo as pessoas que tem cara de pagar inteira no ingresso, com uma pipoca média e uma coca-cola média. E essa pessoa está acompanhada por outra que também carrega sua pipoca média e coca-cola média. Eu contabilizo tudo e em dias promocionais, em que o ingresso custa onze reais, temos um total de uns quarenta reais. Isso mesmo. Eu fico ali, antes do filme, torcendo para que ninguém se sente ao meu lado, atrás ou na frente. Sim, eu almejo isolamento em espaços coletivos e contabilizo o gasto dos demais.
Aí começam os traillers e eu esqueço de tudo. Quase tudo. Eu sempre penso: “E se eu estivesse em outro lugar, fosse outra pessoa e não pudesse vir ao cinema”. “E os sujeitos que estão em cárcere e vêem os dias, quando vêem, passar por uma frestinha na parede”. Eu penso nos ausentes quando me faço presente e é aí que acho que entendo o que sente o diabo.
*That´s all folks*

2 comentários:

Marcos Angeli disse...

Vou procurar esse livro.
quanto ao O grito espere mais continuações até dizer chega.
agora se vc quer um FILME DE TERROR assista O Albergue.

ana paula maia disse...

O Albergue? Não assisti nem a continuação de Jogos Mortais. Tô amolecendo, confesso.