quinta-feira, maio 22, 2008

Dos mortos e miseráveis.

Ontem, antes mesmo de tomar o café da manhã, vi um pombo ser atropelado, ou melhor, esmagado. Mesmo sentindo nojo, eu permanecia de pé esperando o sinal fechar e com os olhos sobre o morto.

Ano passado, estava subindo alguma rua na Vila Madalena junto da Andrea Del Fuego e da Ivana A. Leite quando nos deparamos com um gato preto recém morto. Havia uma poça de sangue ao redor de sua cabeça e sua língua estava pra fora. Del Fuego disse: "Maia, você atrai essas coisas. Nunca vi isso por aqui."

Que coisa. Sempre me lembro disso.

Às vezes, eu saio às ruas e a seqüência de imagens é tenebrosa: Mendigos com feridas expostas, animais mortos, esgoto escorrendo nas calçadas, pivetes, sirenes, e muita miséria debaixo do sol carioca.

Às vezes, tudo está quase em paz. É quando acho estranho.

O Rio de janeiro é um cidade estilhaçada. É tratada feito uma prostituta, ou um travesti que faz a vida. Uma cidade sem valor. Cheia de bandidos em todas as esferas sociais. Não há lugar nesta cidade em que você caminhe sem se sentir coagido. Não há Leblon nobre o suficiente, caro o suficiente, que atraia alguma proteção.

A polícia só chega quando você está morto. Feito um pombo esmagado na rua.

Estava com um amigo na praia de Copacabana, no calçadão, e um rapaz que passava sozinho com uma mochila, foi cercado por três pivetes mais alto que ele, e foi tudo rápido. Roubaram o rapaz e atravessaram a rua caminhando. Eu e meu amigo fomos com o sujeito até uma delegacia.

É assim.... a onda do mar.... a água de coco.... o desenho (quebrado) no calçadão e dezenas de marginais.

Eu e meu amigo tentamos conversar e tomar uma água de coco. Cerca de 10 pessoas pararam em nossa mesa para pedir alguma coisa.

Esta cidade é uma miséria. Não precisa mostrar o Sertão nordestino nem as vielas da periferia. O Leblon está aniquilado. Ipanema. Toda a zona sul virou zona de confronto. Conversando brevemente com o Tony Belloto ele disse que do prédio dele é possível ouvir muitos disparos a noite. Fiquei pensando.... putz.... nem os Titãs escapam.

O que você vê nas praias de Copacabana são um punhado de miseráveis de várias espécies. Os miseráveis sem um tostão no bolso, o miserável que vem pra cá cheio de tostões no bolso para comer o rabo de garotinhos, o miserável que alicia os garotinhos, as prostitutas que disputam um gringo para ganhar um pouco mais.

O mais miserável são os quem vêm para cá explorar a miséria dos nossos compatriotas.

Ninguém faz nada. A putaria está por toda parte. Eu não gosto desse lugar. É sujo. E não o digo pelas feridas expostas dos mendigos ou pelos animais esmagados, digo pelo descaso.

Eu sinto muita pena de tudo isso aqui.


*That´s all folks*

4 comentários:

Biajoni disse...

pé de pato, mangalô, trêis vêiz.
:^)

Ronnie K. disse...

Podem me chamar do que quiser, mas ainda assim, ainda que se confirme nao apenas esse seu temor, como o de muitos, de que o Rio se acaba lentamente, de que o Rio é uma cidade moribunda, uma cidade perdida, entregue, ou seja lá como queiram definir, acho que a miseria e o caos pontuando toda essa imensidao urbana, esse bela imensidão natural, cria um cenario unico em todo mundo. Será o Rio daqui a vinte, trinta anos, um imenso cenario natural de um filme pós-apocaliptico? Ah, isso muito me atrai, não sei por que, mais atrai. É a vida no limite, vivida no aqui e agora. A vida imprevisível. A acomodação, o previsível é chato, tedioso. Adoro a vibração do Rio. Há que se evitar os ladrões e as balas perdidas; senão... faz parte do Jogo. Guimarães disse: Viver é perigoso! Simples, mas sábio... Não há como fugir. O que voce sugere? Voce vai se mudar pra Sao Paulo, Ana Paula? Nãããããõoooooooo...

Andrea del Fuego disse...

Ana, olhe que coisa, fazia tempo que eu não vinha ao teu blog, e hoje dou de cara com a citação da pomba. Tremi. EU ACABEI de ver uma morrer esmagada por um carro enquanto eu esperava o farol de pedestres abrir. Co-incidência. Sem contar motoqueiros, aqui eles morrem feito as pombas. Mais um dia em SP e você veria um. É a cidade. Venha nos visitar mais, Ana, e vamos ao cemitério que é bem menos mórbido (eu adoro). Um beijo. Andréa del Fuego

Ana Paula Maia disse...

Del Fuego que coisa! Ui. rs.
Quero visitá-los sim. Quando for, eu aviso. beijo.

De Kelby, talvez nos dias de hoje, o Rosa diria "Sobreviver é assombroso"
E por que não me mudar pra são paulo?

Biajoni, eu diria umas sete vêiz. rs.