sexta-feira, março 31, 2006

A mulher do sobradinho rosa

Ano passado me chamaram às pressas para visitar uma amiga. Quer dizer, conheço essa moça há muitos anos, nos bicávamos às vezes, pois eu sempre dizia que ela era estranha. Dizia às nossas amigas em comum. E sair na balada, quase sempre ela estava junto. Nunca discutimos, mas eu tinha aquela cisma com a mulher. Ela é 7 anos mais velha do que eu. Então quando eu tinha 14, ela já tinha 21 anos. E foi quando a conheci. Ok, tudo bem. Sempre andei com gente mais velha mesmo. Os anos se passaram, mas minha cisma com ela não; nunca mesmo. Que cisma? Sei lá, meu, era uma coisa estranha. Eu sentia que ela invejava as pessoas, sugava os outros, um tipo que vive de olho comprido no seu guarda-roupas. Todos os “carinhas” davam mole pra ela, era o que dizia, mas eu via o oposto, ela chacoalhando a cabeça de um lado para o outro, largando suas madeixas como um rastro encantado. Todos sabiam que a gente se bicava, não se gostava.

Ana Paula deixa de ser implicante, ela é legal _ me diziam. Gente, ela é estranha, esquisita _ eu insistia.

Anos se passaram e recebo um certo telefonema, de uma amiga em comum. Dessa eu gosto muito, tanto que aturava a outra. Ela me pediu para fazer uma visita à nossa estranha colega me dizendo assim: Ana Paula, ela tá tão estranha, umas coisas esquisitas, só vendo. Vai até lá e me diga o que acha.

Pensei, putz, que merda, como negar, já que ela é minha amiga. A mãe dela também me pediu e pensei que raios de estranheza é essa. Eu sempre a achei estranha, mas a coisa havia extrapolado, o caldo quente entornado no pé de alguém, e então lá vou eu... me sentindo um caça-fantasmas, já que a abordagem era de cunho sobrenatural.

Ela me atende, sorrateira, colocando somente a cabeça pra fora da porta. Eu entro na casa. Um sobrado bem pequeno. Ela fecha a porta e vamos pra sala. Começamos a conversar e aí que a coisa foi estranha pra valer. Meu faro é foda. Sabia que aquela mina era estranha, mas a coisa se tornou uma absurda obsessão.

Ela me disse que todas as vezes em que entrava num ônibus, tinha a absoluta certeza de que todos os passageiros a conheciam, porém ela não conhecia nenhum deles. Quando andava na rua, sabia que era vigiada. Isso eu vi. Enquanto a gente conversava, ela se levantava de tempo em tempo e espiava da sacada “os outros.” Através do pequeno basculante da cozinha, ela esticava os olhos toda a hora.

Me confessou que tinha certeza de que seu telefone estava grampeado por vizinhos e que a água que bebia estava contaminada, pois o namorado de não me lembro quem, havia depositado alguma substância na caixa d´agua.

Deixou de comer comida de um certo supermercado, pois dizia que tudo ali era consagrada a demônios, assim, como deixou de usar roupas novas já que as lojas de roupas também consagravam suas peças a demônios. Só usava roupas velhas.

Estava emagrecendo e sua mãe colocava doses de calmante dissolvido na comida, sem que ela percebesse.
Disse-me que não podia dormir, porque criaturas das trevas queriam arrebatá-la. Não comia nem dormia. Deixou de falar ao telefone, deixou de sair de casa. Na esquina de sua casa, havia uma igreja pentecostal e afirmava que os crentes faziam macumba para ela. Uma coisa me chocou um pouco mais e era isso que a deixava mais obcecada no momento. Dizia que tinha certeza, sempre absoluta, de haver alguma coisa a seu respeito perambulando em sites da Internet. Que tinha sua privacidade violada e me confessou em tom muito baixo, quase um murmúrio, de que suspeitava estar sendo vigiada por câmeras dentro de sua própria casa. Eu juro que vi, ela lançava olhares pelos cantos das paredes. Não havia lugar seguro.

Teve uma certa hora, enquanto conversávamos, eu olhava muito para uma almofada colorida no canto do sofá, ao lado dela. Meus olhos precisavam de refúgio às vezes e então descansavam sobre ela. Ela me perguntou por que eu olhava tanto para aquele lado, se estava vendo alguma coisa, e insistiu nisso. Um horror, estava ficando petrificada. Juro, que coisa parecida só em filmes de terror. E filmes seqüenciados. Parte 1, 2 e 3.

Acreditava que haviam vultos na casa, mas o único vulto que vi, foi o dela. Um vulto doente. Perturbado até a alma. Saí de lá me sentindo mal. Fiquei quase três noites sem dormir direito e nunca mais voltei.

Liguei para minha amiga e ela foi logo dizendo: E aí?
E aí_ eu disse_ E aí é que ela está doente. Muito doente. Um tipo de transtorno obsessivo e ela acredita em tudo o que diz. Ela tem certeza de que é tudo verdade.

Essa foi a parte mais assustadora. Quando saí de lá, perdi minha razão por instantes. Ela acredita e te convence com a maior tranqüilidade do mundo. Você começa a se levar por ela, parece uma praga, que te contamina.

A mãe da minha amiga que tentou ajudá-la com conversas, foi parar no psiquiatra. Claro, ela é nociva. É horrível dizer isso, mas ela parece que carrega uma leva do mal dentro de si.
Sei que sempre foi amargurada, sempre odiou o pai, porque ele morreu assassinado durante um assalto quando era bem pequena. Culpava a morte do pai pela vida dura que levava com a mãe e a irmã. E o pior foi que ele reagiu ao assalto, justamente porque carregava todo o seu salário do mês que havia acabado de receber.

Acho que tanto ódio e rancor acumulado geraram um distúrbio, sei lá.

Ela mora num sobradinho rosa, de esquina, e sempre desvio dele ao passar próximo. Está se tornando uma história assombrada, tipo “A mulher do sobradinho rosa” que vê vultos, ouve vozes e principalmente tem a certeza absoluta de que há no mundo uma conspiração contra sua vida.


“Os defuntos antigos me importunam.... De tempos a tempos um vulto embuçado passava na calçada”.
[Angústia _ Graciliano Ramos]



*That´s all folks*

quinta-feira, março 30, 2006

Sinais

Com esse papo de espíritos alarmado pelo filme de mesmo nome, me chamou atenção uma coisa que aconteceu com uma foto minha. Ela está numa entrevista linkada ao lado. Vocês podem perceber a mancha branca sobre a foto. Eu não sabia disso, até a editora de arte da revista MTV me mandar um email dizendo que a foto que eu havia enviado para a matéria (edição de fevereiro) estava com umas manchas. Achei estranho, já que a foto estava perfeita. Abri a foto no meu micro e lá estava a mancha. Ok, tudo bem, eu tenho dois back-ups dessa foto. Nos dois back-ups, em disquetes diferentes, o mesmo problema. Pensei que pudesse ser do meu computador, estava na época fazendo um up-grade digital em minha vida, e no novo computador a mesma coisa. Me lembrei... “Ah, tenho esta foto on-line, publicada numa entrevista faz tempo”.
Vou até lá e a mancha também aparece. Vale atentar que essa tal mancha não estava na foto quando foi publicada no site, isso em 2004. Ela só apresentou este problema em janeiro de 2006. A minha maior questão é como que em todas as mídias diferentes, a foto usada também em momentos diferentes apresentou a mesma mancha branca. É sério esse negócio. O problema poderia ter aparecido em uma ou outra imagem, mas não em todas ao mesmo tempo. Incluindo um arquivo de um ano e meio na internet. Cheguei a abrir um dos back-ups num cyber café e também estava lá. Um funcionário me disse que não sabia o que poderia ser.
Se alguém souber me dizer o que pode ter acontecido, fico grata. Se não, vou começar a me preocupar com os possíveis sinais e o que eles querem me dizer.

Pra conferir a foto, por favor, clique no link aí ao lado chamado: Entrevista Rede de Letras.
Por um motivo que só os espíritos podem responder, o link no corpo da postagem não está funcionando.

**
E deixando os espíritos um pouco de lado, para invadir falhas subterrâneas e experimentos sobrehumanos, basta clicar AQUI para saber como adquirir um exemplar do meu livro “O habitante das falhas subterrâneas” e recebê-lo na comodidade do seu lar, isso é claro, se estiverem interessados.

*That´s all folks*

quarta-feira, março 29, 2006

Killing Travis

PERSONNEL OFFICER: So why do you want to be a taxi driver?

TRAVIS: I can't sleep nights.

PERSONNEL OFFICER: There's porno theatres for that.

TRAVIS: I know. I tried that.

PERSONNEL OFFICER: So whatja do now?

TRAVIS: I ride around nights mostly. Subways, buses. See things. Figur'd I might as well get paid for it.

PERSONNEL OFFICER: We don't need any misfits around here, son.

TRAVIS: You kiddin? Who else would hack through South Bronx or Harlem at night?

PERSONNEL OFFICER: You want to work uptown nights?

TRAVIS: I'll work anywhere, anytime. I know I can't be choosy.

PERSONNEL OFFICER: How's your driving record?

TRAVIS: Clean. Real clean. As clean as my conscience.

PERSONNEL OFFICER: Listen, son, you gonna get smart, you can leave right now.

TRAVIS: Sorry, sir. I didn't mean that.

PERSONNEL OFFICER: Physical? Criminal?

TRAVIS: Also clean.

PERSONNEL OFFICER: Age?

PERSONNEL OFFICER: Twenty-six.

PERSONNEL OFFICER: Education?

TRAVIS: Some. Here and there.

PERSONNEL OFFICER: Military record?

TRAVIS: Honorable discharge. May 1971.

PERSONNEL OFFICER: You moonlightin?

TRAVIS: No, I want long shifts.

PERSONNEL OFFICER: We hire a lot of moonlighters here.

TRAVIS: So I hear.

PERSONNEL OFFICER: Hell, we ain't that much fussy anyway. There's always opening on one fleet or another. Fill out these forms and give them to the girl at the desk, and leave your phone number. You gotta phone?

TRAVIS: No.

PERSONNEL OFFICER: Well then check back tomorrow.

TRAVIS: Yes, Sir.


[Diálogo do filme Taxi Driver]
*That´s all folks*


segunda-feira, março 27, 2006

Paris em chamas

Para amanhecer domingo, tive novos sonhos estranhos. Talvez sob efeitos do tal comprimido, pois já relatei um outro estranho sonho sob seus efeitos. Era um dia chuvoso e nublado e eu estava em Paris. Paris vivia uma revolução e eu encontrei alguns brasileiros à deriva que não se davam contam de todo o perigo que circundava a cidade.


Saí para ir até uma vídeo-locadora, que ficava numa rua estreita, parecia um pequeno reduto alternativo de intelectuais e gente indie. Até então, eu não sabia das manifestações. Na locadora, eu peguei três filmes europeus. Só me lembro de dois deles. Um era do Bertollucci, o outro era do Luis Buñel, porém um detalhe, este filme do Buñel não existe na vida real. E nele estava predito tudo o que acontecia nas ruas de Paris naqueles dias. Levei o dvd para casa, morava numa pensão meio capenga, e tinha uma velha senhora como proprietária.


Enquanto andava pelas ruas, retornando para minha pensão, comecei a ver as cenas do filme de Buñel acontecer à minha frente. Coisa de sonho, antes mesmo de assisti-lo em casa, eu já o assistia em minha mente, saco?
Bem, virei uma esquina e precisei confrontar a polícia em meio a rebelião de jovens. Lembro-me de ter apanhado uma pedra e jogado em direção aos policiais. Era isso ou eu estava frita. E Paris tornou-se em chamas. Só eu sabia sobre o filme. Só eu poderia saber como tudo terminaria. Perambulei até anoitecer, madrugada à dentro com muito frio. Peguei carona com umas brasileiras alienadas. Elas não entendiam que estávamos exilados, e eu continuava agarrada ao tal filme.


Não me lembro direito como tudo terminou, quer dizer, meu sonho foi interrompido, mas eu continuava a culpar o Buñel pelo estado de Paris. Voltei para o Brasil não faço idéia como e sentia-me muito mal. Um mal-estar extremamente penoso. Havia o medo dos confrontos chegarem até mim, me despertarem pela madrugada. Assistia ao filme buscando seu final, buscando entender a história, mas Buñel estranhamente não havia colocado um ponto final no filme, ele não terminava nunca e acordei bruscamente com a imagem do corre-corre, da loucura das ruas e do estado de sítio das coisas.


Engraçado que dois posts atrás falava do sonho de Cortázar e sua casa tomada, e nesse domingo, de alguma forma, também tive a minha casa tomada e minha consciência invadida pelos delírios de Buñel, por seu anjo exterminador, por sua insanidade descontinuada.


*

Já está no ar o capítulo10 do folhetim pulp. Confira!



*That´s all folks*


domingo, março 26, 2006

Copista eletrônico

"Meu nome é André. Era o nome do meu pai. Foi ele quem escolheu o meu. Minha mãe me chamava de Zinho. Ele não gostava, só me chamava de André. Depois ele desistiu e começou a me chamar de Zinho também. Eu moro em Porto Alegre, uma cidade no sul do Brasil.


Moro na Presidente Roosevelt, que é essa rua. Fica no Quarto Distrito. Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos, ele era casado com uma gordinha que era prima dele. Ele ficou muito conhecido por causa da Doutrina Roosevelt, que não deu tempo de eu ler o que era. Nem sei direito o que é doutrina, acho que é um monte de regras. Parece o nome de uma velha. Vó Doutrina.


Da janela do meu quarto eu vejo um clube, o Gondoleiros. No teto do prédio tem uma gôndola. Eu não sei se em Porto Alegre já teve alguma gôndola.


Eu trabalho nesta papelaria, sou operador de fotocopiadora. De vez em quando a máquina tranca, aí tem que abrir e tirar o papel, e a cópia tem que jogar fora. Quase sempre tu só tem de apertar estes dois botões, start, stop, start, stop, start, stop.


É melhor parar, o Bolha acaba me vendo pelo espelho bolha dele. Ele diz que o espelho é para a segurança da loja. O Bolha pensa que eu sou otário. Considerando o que ele me paga, ele não deixa de ter uma certa razão. O nome do bolha é seu Gomide. A dona bolha se chama Maria. Só aparece aqui na loja para ver revista e pegar dinheiro. O nome do bolhinha é Rodrigo. Ou Diogo. Eles chamam o bolhinha de Guigo, acho que é Rodrigo. Ele fica abrindo o armário do papel, por causa da luz".

[trecho do filme O homem que copiava]


PS: A janela de comentários já voltou a funcionar normalmente, ao que parece. Algumas coisas estavam desativadas.



*That´s all folks*

quinta-feira, março 23, 2006

O corte de Cortázar

Dia desses, assisti uma entrevista com Julio Cortázar, deveras antiga e com um entrevistador explicitamente fã e leitor incondicional “del cabron”. E ele se referia ao entrevistado em terceira pessoa e isso soava estranho. Ele fazia várias perguntas em uma e atrapalhava-se com um sorriso nervoso.

E é aí que entra a magnitude de Cortázar. Ele mostrava ao entrevistador sua pouca habilidade em direcionar as perguntas, provavelmente mais por nervosismo do que por incompetência, e de maneira muito elegante e calma respondia com uma simplicidade estonteante. Ele demonstra ter consciência de sua importância, mas demonstra de forma sutil, como um semi-deus no Olimpo. Apesar de não saber como se portam os semi-deuses do Olimpo, provavelmente muito menos gentis que Cortázar, porém é a única imagem que me veio agora. Bem, ele tem o poder de simplificar suas questões e a dos outros. Concisão também está lá.

E o curioso disso tudo é saber que ele era um escritor de complexidades, deixou um belo legado fantástico, universo esse, segundo ele, já era de sua propriedade nos tempos de menino. Contou uma breve passagem de sua infância, quando leu um livro de Julio Verne, tido como um de seus mestres (e foi aí que adorei, pois o Verne, tão deixado de lado nas referências literárias da maioria dos escritores, parecendo ser um autor “menor” é para mim também um mestre, principalmente em precisão. Quer aprender a contar uma história? Leia Verne, ele ensina em centenas de capítulos exuberantes ).

Bom, voltando ao outro Julio, o argentino, ele conta que esse livro já trazia de maneira inédita o “homem invisível”, que ele achou plausível, porém um coleguinha da escola lhe devolveu o livro afirmando ser fantástico demais. Cortazar, naquele instante entendeu que o significado de fantástico para ele perpassava outras instâncias, bem diferentes das dos outros, e provavelmente ali começou uma real formação do irreal para o escritor.

Contou também que as várias leituras de sua obra, o surpreendia por serem interpretações tão distintas do real. Seu conto “A casa Tomada”, um dos mais conhecidos, foi sonhado. Ele teve um pesadelo em que se encontrava dentro de sua casa e uma força misteriosa que manifestava-se através de ruídos o aterrorizava. Ele tentava impedir aquela coisa com barricadas que ia suspendendo ao longo do sonho e em momento algum ele conseguiu detectar que coisa era aquela, até que a última porta que ele fecha é a porta da rua. Ele foi expulso de sua própria casa e sem saber pelo o quê.

Esse conto foi interpretado como reflexo da situação política da Argentina na época e teve sempre essa leitura, que para ele é um equívoco, porém aceita as múltiplas interpretações de sua obra.

Mas compreender a magnitude de um verdadeiro escritor, é quando ele serenamente reconhece suas fraquezas, ao dizer que não é um homem das idéias, que não saberia expressar sua opinião através de um ensaio de dez páginas. Ele conta melhor em conto, em prosa, em ficção e alegoria. E ao longo da entrevista, eu não queria deixar de escutá-lo, pois parece ser um homem realmente envolvido com seu ofício, dando de ombros para o resto. Fama, sucesso, dinheiro. Parece-lhe importar somente as letras, a dimensão do irreal e seu cigarrinho que ele nunca largava.

Disse que demorou bastante antes de publicar qualquer coisa. Que experimentou, agora será uma especulação pessoal, o estado bruto do ser humano, suas experiências e leituras, acho que ele propôs a construir e delimitar um espaço de raciocínio e entender-se em meio ao emaranhado de idéias e traduzi-las no papel, já que esse, acredito ser a principal tarefa quando se escreve. Decodificar nossas leis de raciocínio, nossas vertentes de construções imaginárias. Antes de pensarmos em palavras, em elegância de estilo, figuras de linguagem, texto literário, obra e vaidades de aquisições de títulos e prêmios, acredito no poder das idéias decodificadas e são elas, não as palavras que considero serem a materialização desse raciocínio, que têm o poder de transformar o homem.

A tal revolução pessoal, o verme que corrói os bolos de ignorância e mediocridade, que desata alguns nós, que podem direcionar o olhar para além do arco-íris, mas sabendo que no fim de um não há potes de ouro. Acho que decifrar certos textos é como ver uma esfinge lançando-se no abismo. É nisso que acredito consistir toda a forma de arte.

Acho melhor parar por aqui, pois está ficando com cara de ensaio. E eu só queria especular sobre o fantástico escritor Cortázar, que é afiado até no nome.



*That´s all folks*

quarta-feira, março 22, 2006

Falcão e as outras aves de rapina

Assisti no domingo ao documentário Falcões – meninos de tráfico, e logo de cara imaginei como o MV Bill consegue manter um tênis tão branco. É impossível que alguém tenha um assim, alvo como neve imaculada. Funkeiros também costumam exibir um pisante com o mesmo esmero de brancura. Acho que significa status. Mostra que você não pisa mais na lama, só anda no asfalto, melhorou de vida. Deve ser por aí.

É possível ler na Folha de São Paulo dessa terça-feira uma crítica sobre o documentário. Sinceramente, eu não ia falar nada sobre isso, mas depois de ler o artigo, mudei de idéia. Concordo com o que li. Acredito na seriedade do rapper que o produziu. E a primeira coisa que concluí ao terminar de assistir ao documentário foi: “No filme Cidade de Deus isso tudo está lá.” Na Folha, eles também dizem isso, com outras palavras.

No artigo, destacaram duas frases, ditas por dois meninos, que parecem ter chamado mais a atenção. Tocado mais profundo:

"Vivo "se" drogando. Minha vida é só alegria"
"O que você quer ser quando crescer?", pergunta o entrevistador. "Quero ser bandido"

Hum....... sabe qual a frase que me lembro?

“O dia em que o crime acabar, a polícia acaba.” Será que ninguém prestou atenção nisso? Eles completam dizendo que se os policiais tivessem que viver só com o que ganham na polícia, não daria para viver. Então, querido, a ferida é mais profunda. Para movimentar o comércio de merthiolate, é preciso cutucá-la, fazê-la sangrar, de tempos em tempos.

Os meninos e jovens reclamam da falta de emprego, do salário de fome que ganhariam se estivessem trabalhando legalmente. E dizem que os policiais vivem extorquindo-os, justamente por que o salário deles é também uma porcaria.

Minha pátria amada, salve, salve. Minha Terra com palmeiras e bundas douradas graciosas onde cantam o sabiá e o Cauby Peixoto, os meninos sabem, ainda que em parte, que seu trabalho é MUITO importante para este país. Imaginem um país sem polícia? Sem essa força tarefa especial? Eles sabem que não há como deter toda a coisa. Existe muita gente, mas muita gente mesmo que vive, sobrevive, esbanja, e esnoba com esse dinheiro. Que a mesma polícia que sobe para combater, sobe para receber a propina obrigatória.

Se esses meninos receberem educação, se essa realidade for mudada, ô filhos da pátria, o outro lado da balança vai sentir, o poder público vai sentir, o congresso vai sentir. Está tudo equilibrado, sob controle. Eles fodem ainda bem jovens, engravidam e nascem os futuros trabalhadores. Aos 17 anos são pais de dois, três filhos, porém já estão mortos. Mas viveram o suficiente para deixar alguns substitutos. É um círculo vicioso, uma praga, uma condenação. Parece até ficção científica, “Lost”, se fizer uma espremida analogia.
Estão ilhados, acuados, tentando sobreviver na selva. O inimigo surge de todos os lados,
“Os outros”, que na verdade nem eles sabem quem são ao certo. Eles precisam ficar ali, endolando a droga, defendendo o território, e mandando o produto para o asfalto. O destino final, não sabem. Precisam apertar um botão a cada 108 minutos, se não, eles perecem (isto só entende quem assiste a série). Porque isso foi ensinado a eles. Doutrinados.
Estão envolvidos num projeto secreto. Assim mesmo, como ficção cientifica, meu filho, esperando por Neo, esperando pelo Messias.

Às vezes, gostaria de escrever em cor-de-rosa, sabe. Ser mais suave e meiga. Mas minha cor predileta é o azul. Azul céu inebriante. A única pessoa que escreve em cor-de-rosa e eu gosto é o Santiago Nazarian, mas cor-de-rosa só mesmo a cor do seu blog, porque no papel é vermelho sangrento, roxo. Ele gosta de fatiar a realidade com uma lâmina bem afiada e dar os pedaços para o seu iguana comer (rs.)

Até coloquei uma fotinha de infância no orkut e percebi que ainda carrego aquela inocência no olhar, de certa forma. Aquela minha melancolia infantil ainda se arrasta nas minhas pupilas.

Aí tudo isso me fez lembrar uma musiquinha do Molotov, acho que a mais conhecida deles, que vivo a cantarolar e é engraçado certas semelhanças com nossos hermanos mexicanos. Peguei esta tradução na internet. Uma tradução meio capenga, mas dá pra entender o recado. Coloquei apenas dois trechos. Deve está tudo certo. Que pena, já que deve ser também tudo verdade.
Gimme Tha Power
Molotov
A polícia está te extorquindo (dinheiro!)
mas eles vivem do que você está pagando
E se te tratam com um deliqüente (ladrão!)
Não é sua culpa, dê graças ao regente
Tem que arrancar o problema pela raiz
E mudar o governo de nosso país
Há gente que está na burocracia
a essa gente que gostam das migalhas


Gente que vive na pobreza,
Ninguém faz nada porque à ninguém lhe interessa
É a gente de cima que te detesta
há mais gente que quer que cagam em suas cabeças


*That´s all folks*

terça-feira, março 21, 2006

Insustentável estranheza do nome

Nunca questionei até onde vai a capacidade criativa do povo brasileiro. Bem, isso até encontrar um site que lista nomes e sobrenomes de alguns desses brasileiros, filhos de pais inventivos, que expressam momentos marcantes, com significados tão especiais e íntimos.

Selecionei alguns incríveis aqui.

  • Bom Filho Persegonha
    Chananeco Vargas da Silva
    Colapso Cardíaco da Silva
    Comigo é Nove na Garrucha Trouxada
    Deusarina Venus de Milo
    Ernesto Segundo da Família Lima
    Esparadrapo Clemente de Sá
  • Espere em Deus Mateus
  • Estácio Ponta Fina Amolador
    Faraó do Egito Sousa
    Finólila Piaubilina
    Gerunda Gerundina Pif Paf
    Graciosa Rodela D'alho
    Himineu Casamenticio das Dores Conjugais
    Hugo Madeira de Lei Aroeiro
  • Hypotenusa Pereira
    Ilegível Inelegível
  • Inocêncio Coitadinho
  • Izabel Rainha de Portugal
    Joaquim Pinto Molhadinho
    José Catarrinho
    José Teodoro Pinto Tapado
    Maria Tributina Prostituta Cataerva
    Naida Navinda Navolta Pereira
    Necrotério Pereira da Silva
    Novelo Fedelo
    Orlando Modesto Pinto
    Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto
    Percilina Pretextata Predileta Protestante
    Placenta Maricórnia da Letra Pi
    Restos Mortais de Catarina
    Sansão Vagina
    Sete Rolos de Arame Farpado
  • Simplício Simplório da Simplicidade Simples
    Um Dois Três de Oliveira Quatro
    Um Mesmo de Almeida
    Voltaire Rebelado de França
    Josefa Buceta Salgado
    Foca Bilota
    Alumínio Fachina
    Aricléia Café Chá
    Antônio Veado Prematuro
    Barrigudinha Seleida
    Bizarro Assada
  • Boaventura Torrada
  • Bom Filho Persegonha
    Cafiaspirina Cruz
  • Capote Valente e Marimbondo da Trindade
    Chevrolet da Silva Ford
    Dignatario da Ordem Imperial do Cruzeiro
    Lança Perfume Rodometálico de Andrade
    Magnésia Bisurada do Patrocínio
    Liberdade Igualdade Fraternidade Nova York Rocha


E entre tantos fica tão difícil escolher um. Mas esse achei realmente charmoso:

Marciano Verdinho das Antenas Longas.
*That´s all folks*



segunda-feira, março 20, 2006

Homens e lobos

“Jean Grenier, um jovem pastor da região de Bordeaux, no sul da França, durante seu julgamento em 1603, declarou que depois de adotar a forma de lobo, tinha destroçado e devorado mais de cinqüenta crianças e disse que o poder para mudar sua condição física tinha sido adquirido de um misterioso e tenebroso estrangeiro com o qual havia se encontrado nas profundezas de uma floresta há alguns anos. O estrangeiro, identificado em muitos desses relatos como o diabo, teria lhe dado um ungüento e uma pele de lobo e quando Grenier untou-se com o dito preparo e cobriu-se com a pele, transformou-se em lobo.

Contudo, algumas perguntas detalhadas durante o seu julgamento, demonstraram que Jean Grenier era um retardado mental, que inventava histórias estranhas nas quais acreditava. Depois de consultar dois especialistas médicos, o juiz declarou que Grenier não era um lobisomem e sim, um licantropo. De acordo com isso, Grenier foi posto sob custódia dos monges do mosteiro franciscano de Bordeaux para o resto de seus dias, ao invés de ser queimado, destino de muitos outros licantropos.

No povoado de Eccleshall de Staffordshire, Grã-Bretanha, em abril de 1975, Andrew Prinold, um aprendiz de carpinteiro de 17 anos, atravessou seu coração com uma faca, aterrorizado por achar que estava transformando-se em um lobisomem.”


[Fonte: Revista Fator X nº 18]


Já está no ar o capítulo9 do folhetim pulp. E para ler uma resenha sobre ele, clique aqui


*That´s all folks*

sábado, março 18, 2006

Desconcertos nº 1

Athayde Patrese, apresentador de tv e colunista social, confessou meses antes de morrer, que se arrependeu de ter doado o rim para seu filho, há uns 19 anos. O rim de Patrese durou 12 anos no corpo do rapaz e depois, foi para o lixo. Ou cemitério de órgãos e membros decepados, ainda não sei se existe um desses.

Ele disse que se imaginasse que seu rim fosse apodrecer em seu filho anos depois e que o dele não fosse dar conta de filtrar todas as porcarias de seu corpos, todos os drinks e goros, tudo simplesmente um luxo, ele jamais teria doado.

Está em cartaz um espetáculo chamado “O Rim”, escrito por Patrícia Melo, que narra a história de uma mulher que doa um rim para um sujeito por quem está apaixonada e este a abandona e parece que ela irá requerer o rim de volta. Não sei ao certo, mas essa questão de doar órgãos, mais especificamente, o rim, anda em alta, quer dizer, em pauta.

“Ana Paula, garota, você às vezes é doentia.” Sou pacifista. Tranqüila. Nada, nada doentia. Mas é que quando eu escrevo a mesma coisa, muito antes, (já que parte do folhetim está pronta faz dois anos), de forma mais extrema, eu sou doentia, quando o Patrese diz que se arrependeu de doar o rim para o filho anos atrás, já que nem o filho pode desfrutar o rim por tanto tempo e o mesmo acabou descartado, entra em pauta a questão do dever ou não de doar órgãos.

Para quem está acompanhando o folhetim, um dos personagens doou o rim para sua irmã, mas o que ficou não está bom, então ele decide pegar seu rim de volta com a ajuda de seu melhor amigo Edgar Wilson, que abre porcos diariamente, com muita habilidade. Isso ocorre no capítulo 6. Eles usam um canivete e o colocam dentro de uma bolsa térmica. Dá certo, até um imprevisto acontecer capítulos depois.

É esdrúxulo, espreme a realidade contra os dedos, mas é humor negro afiado e violência amolada, como costumo dizer.

Não gosto dessa coisa de “Ahhh.... esse livro é um soco no estômago.” O novo trabalho do MVBill, segundo a chamada num jornal diz que “será um soco no estômago dos brasileiros”. O projeto “Falcão – Meninos do Tráfico” será lançado em documentário (exibido nos Fantástico), livro e álbum. É evidente que se não desse um gordo lucro, não sairia em formato triplo. Aceitem ou não, estamos nos tornando como nossos irmãos do Norte (América), aprendendo a vender nossas mazelas, escândalos, enlatando tudo numa bela embalagem, alardeando numa grande promoção publicitária e vendendo. Isso, eu aceito, só não aceito a hipocrisia de se dizer que isso é para abrir os olhos da sociedade. Isso é para gerar dinheiro. Assim como uma prostituta escreve suas aventuras sexuais e vende milhares de exemplares, os meninos do tráfico também e as garotinhas prostitutas do nordeste, se souberem escrever minimamente, estarão encabeçando um novo potencial de mercado.

Não sou contra a venda do produto, mas odeio quando dizem que tal creme reduz a celulite e não reduz. Odeio quando dizem que tal xampu anti-caspas é mesmo eficiente e continua a nevar sobre meus ombros sempre que me mexo. Uma coisa é certa, toda a sociedade brasileira está de olhos abertos, e mãos no bolso para segurar suas carteiras e esconder seus relógios, até os mais vagabundos.

Peloamordedeus....... mais socos? Precisamos de mais socos? Não basta as porradas diárias nos juros do cartão de créditos, no aumento das passagens de ônibus, no preço do combustível, no lixo da educação, no preço dos livros que quero ler, na porra do frango contaminado, no esgoto aberto em alto-mar, no Marcos Valério, na puta roubalheira, na péssima e enjoada sexta edição do Big Brother Brasil, no Kadu Moliterno espancando a mulher durante anos. O Juba e Lula.... um tipo de herói da década de oitenta?

Ainda precisamos que venham dizer mais e mais sobre o que acontece com os meninos do tráfico, com a porra do morro? Agora tem a denúncia, mais uma vez, da exploração das menores no nordeste. Os gringos vêm foder garotinhas. Mas precisam ser bem novinhas. Quinze anos já estão velhas.
Temos assunto para uma tonelada de dossiês, uma tonelada e meia, se pensar bem.

Comecei falando do rim do Patrese e terminei nas putas do nordeste. Sinceramente, não sei onde me perdi, onde me achei, o que queria dizer. Mas tudo isso é simplesmente um lixo.



*That´s all folks*

sexta-feira, março 17, 2006

Ave, Cesar! Ave, Maria!

Com a imensa onda da gripe aviária, rondando europa e ásia, finalmente os brasileiros poderão se fartar de tanto comer frango. Até por que, aquilo que eles rejeitam, a gente manda pra dentro.
Seja músicas presepeiras, filmes imbecis, moda alienante ou frango contaminado, que dando um jeitinho vira frango assado, frito, desfiado, ao molho pardo, strogonoff de frango, lasanha de frango, empadão de frango, churrasquinho de frango, frango à milanesa, frango empanado, em tirinhas, frango na cerveja preta, bobó de frango, frango agridoce, frango ao gengibre, frango indiano com ricota, frango com manga, frango com quiabo, frango com amendoim e cominho, frango com catupiry, frango na moranga, frango acebolado, frango al cartoccio, frango à parmegiana, frango recheado com farofa, frango ao cury, frango xadrez, salpicão de frango, galinhada mourisca, torta de frango com palmito, frango com bolas de purê, cuscuz de galinha, frango ao forno à moda havaiana, xinxim de galinha e coq au vin.

Assim que a gripe aviária atacar os perus e eles passarem a ser vendidos também a R$ 0,99 darei a receita de um delicioso Escalopes de Peru Cordon-Bleu.

Porque só assim mesmo, o Lula poderá dizer que tem mais carne na mesa do povo brasileiro. Que em sua gestão o frango congelado chegou à mesa do consumidor por uma preço tão irrisório. É o fome zero dando seus frutos, mas os atacadistas devem se lembrar de um pequeno detalhe. Um aviso em destaque na seção de congelados.

"Compre um frango congelado por apenas R$ 0,99 e leve um frasco de Cebion inteiramente grátis."


Acredito que isso irá alavancar ainda mais as vendas. E se possível, dando uma receitinha básica para se fazer um escaldapé. Por isso continuamos a ser o quintal do resto do mundo.


E no site Rabisco tem um artigo muito bacana sobre o folhetim Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos. Para ler http://www.rabisco.com.br/75/folhetim.htm
E vale conferir um dossiê sobre o escritor Caio F. Abreu.

*That´s all folks*
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quinta-feira, março 16, 2006

Dias e horas...

Meu peito parece que vai estourar a cada tossida. Resfriei de vez ontem à noite. Estou tossindo como cachorro doente. Meu computador ainda está na manutenção, então escrevo num pentiumssauro que quebra o galho. Meu blog cor de chocolate deu pau de verdade. Minha avó caiu no banheiro e quebrou o fêmur. Está no hospital. Fará uma cirurgia. Eu a encontrei caída no chão, até por que quando caiu, o barulho foi grande, e isso aconteceu à uma da manhã. Minha coluna que andava trincada, piorou de vez, já que tive de levantá-la do chão, ajeitá-la na cama. Meu irmão disse que não poderia ter mexido nela, mas nessas horas só se pensa em fazer alguma coisa.

Tudo está estranho. Parece que alguma coisa tenta me sabotar. Pode ser exagero, mas tenho apenas tentado sobreviver à esses dias. A sensação de encontrar alguma fatalidade em cada esquina esmorece meu coração. Felizes são os peixes. Gostaria de ser um peixinho dourado e viver num aquário.

Engraçado como às vezes nos tornamos nossa própria ficção. Tenho a impressão rara de que crio ficção para me esconder dentro dela nos dias tenebrosos, porque lá, o final já está escrito e tudo é previsível.

Deixo aqui um trecho do meu romance inédito “A Guerra dos Bastardos.”


“Esperar. Isso é tudo que Amadeu faz confinado entre o carpete mofado e o teto infiltrado, desintegrando-se sobre sua cabeça, como a droga de uma tempestade e suas nuvens carregadas alastrando-se descompensadas. Não demonstra ansiedade. Tem paciência, ainda que um sol glorioso o convide a caminhar pela rua, não se importa com a sua condição de confinamento.”

[A Guerra dos Bastardos _ Ana Paula Maia]



*That´s all folks*


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quarta-feira, março 15, 2006

Os nós da corda bamba

Acho que faz duas semanas, que li um artigo no caderno Prosa & Verso sobre a inserção de novos autores nos catálogos de grandes casas editoriais. Já é difícil está nas pequenas quanto mais nas grandes. Bom para quem consegue e saiba que isso é fruto de muitos esforços. Acho que não é complicado ser escritor, você pode escrever o que quiser, intitular-se prosador, poeta ou dramaturgo, o difícil é ser bem publicado, ser bem resenhado, ser bem lido. E isso, creio, possui o elemento sorte. Você preciso de talento, de disciplina, de abdicações, de cuidados, e você precisa de sorte pra que tudo isso venha à tona.

O problema, muitas vezes, é pensar em tudo que vai além do texto. E o que vai além do texto está fora do alcance do autor. Qual o papel do escritor? Sempre penso no porquê de uma razão. Acho essa pergunta não só batida, mas eternamente sem resposta. O papel do escritor, pra mim, é aquele que está diante dele. É aquele onde escreve, rasura, e escreve de novo. Não creio em revoluções a partir de uma literatura, a não ser que essa revolução já esteja na ponta do gatilho. Acredito em tempestades do espírito, em evoluções interiores, revoluções individuais.

Um texto pode mudar um sujeito, alterá-lo pra sempre e essa é toda revolução que se pode conseguir de fato. Por isso, defendo o poder político de todo o texto, ao menos aquele que escrevo e só comecei a atentar pra esse fato quando o escritor Luiz Ruffato, por email, comentou sobre meu folhetim pulp

Fiz um passeio no que escrevi até hoje e concordo. Existe uma verve idealista e política naquilo que escrevo e acho essa uma das formas mais difíceis de se escrever e se portar. Uma postura dentro do que se acredita. Temo chutar cachorro morto, acuar rato envenenado, jogar lama nos porcos. Mas essas são agruras e disso todo escritor precisa, invariavelmente.


*That´s all folks*

terça-feira, março 14, 2006

Fênix de saias

O Killing Travis foi atingido por estilhaços de fuzil enquanto traçantes cortavam os morros cariocas e não sobreviveu aos ferimentos. Segundo a perícia, os estilhaços partiram da arma de militares. O caso está sendo averiguado.

Sinto-me renascendo de certa maneira. Meu computador está na manutenção e estou arrumando tudo numa Lan house.

Deixarei lá os arquivos anteriores, aquele layout cor de chocolate, como uma lápide, porém a cova é rasa e está vazia.
Se quiserem jogar rosas no túmulo, aí está o endereço antigo.
www.killingtravis.blogspot.com

Espero que continuem vindo aqui... que nossa relação seja a mesma. Agora com um fundo azul e sóbrio.


*That´s all folks*